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2.04.2009

Executivos estão mais abertos às propostas

Por: Rafael Sigollo, de São Paulo

Além de mudanças na gestão das empresas, com cortes de funcionários, reestruturação interna e redução de custos, a crise econômica internacional já reflete também no comportamento dos executivos, especialmente dos que foram demitidos ou estão em transição de carreira. Em recente pesquisa realizada pela empresa de consultoria e recrutamento Mariaca com 250 gerentes, diretores e presidentes que atuam no Brasil, a grande maioria demonstrou estar mais flexível em relação a novas propostas e oportunidades.

Dependendo da situação, cerca de 70% dos entrevistados, por exemplo, aceitaria ganhar menos ou assumir posição inferior no novo emprego. Para Marcelo Mariaca, presidente da consultoria, as incertezas e instabilidades do mercado justificam esse comportamento. "O executivo nessa situação quer ouvir o que o mercado tem a oferecer, está disposto a estudar as propostas e, se for o caso, fazer algumas concessões", afirma.

De acordo com ele, o executivo brasileiro é mais "adaptável" comparado ao americano e ao europeu, que possuem uma postura mais rígida em relação às suas tarefas e funções no trabalho. Isso ajuda a entender o alto índice de profissionais brasileiros dispostos a negociar ofertas que nem sempre casam com o que eles estavam buscando em um primeiro momento-o que, para Mariaca, não é sinal de baixa autoestima ou falta de confiança. Prova disso é que quase 60% acham que o mercado os vê como profissional de destaque e 45% estão encarando a transição de forma positiva. "Em geral, os executivos têm boa formação e experiência. Embora essa situação de ficar temporariamente sem emprego seja inédita para muitos, eles sabem que sempre há lugar para os talentos", diz.

De acordo com Marcelo Mariaca, a demissão de executivos não é tão traumática hoje quanto no passado e os profissionais estão aprendendo a lidar melhor com essa questão. "Nas décadas de 80 e 90 demissão era sinônimo de problema, de que havia algo errado com a pessoa. Hoje, muitos são cortados devido a fusões, aquisições ou mudanças de estratégia. O processo é menos hostil e a aceitação é maior", explica.

Outro fator que tranqüiliza os executivos é ter plena consciência de que suas capacidades e sua experiência podem ser adaptadas e usadas nas mais diversas áreas. "O leque de possibilidades é muito grande. As habilidades de um bom profissional transcendem um cargo ou uma função", afirma.

Embora 80% deles acreditem que estarão novamente empregados em até seis meses, outros, como o gerente de planejamento e controle Fábio Severino, não têm tanta pressa. Após atuar por vinte anos de forma ininterrupta na área de controladoria de duas grandes empresas, o executivo aproveitou o período de transição para viajar, dedicar-se à família e realizar projetos pessoais durante três meses. Só depois se colocou novamente à disposição do mercado. Agora, já analisando novas propostas, Severino está bastante confiante, mesmo com a crise. "Apesar de muitos processos aqui terem sido congelados pelas matrizes no exterior, estou consciente das minhas habilidades e tenho certeza de que encontrarei uma oportunidade de acordo com as minhas expectativas", avalia. Ele, inclusive, já morou por quatro anos fora do Brasil e sempre considera ofertas para atuar em outros países. "Tenho experiência e facilidade em me relacionar com outras culturas. Acredito, no entanto, que atualmente as melhores oportunidades são mesmo internas", afirma.

O executivo também se diz aberto a negociações, mas reconhece que existem empresas "não tão sérias" que tentam se aproveitar da crise oferecendo bem menos do que um profissional qualificado merece, o que acaba sendo ruim para os dois lados. A dica, portanto, é não aceitar qualquer coisa só para não ficar desempregado. "Não tem nada de errado em quem quer comprar uma Ferrari pelo preço de um Fusca. O problema é o dono da Ferrari vender [FOTO]", compara.

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