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2.04.2009

Crise exige sangue frio e responsabilidade dos gestores empresariais

Por: Marcelo GonçalvesPortal Administradores

Após viver um dos períodos de crescimento mais marcantes das últimas décadas, as empresas brasileiras se veem diante de grandes desafios em razão da crise econômica internacional. Dados oficiais e o comportamento do próprio mercado dão mostras de que as dificuldades na obtenção de crédito, a retração do consumo externo e interno e as perspectivas ainda incertas em relação à possível duração do atual momento estão causando recuos que não podem ser ignorados.

Um dos setores mais afetados pela crise, a indústria brasileira tirou o pé do acelerador, revertendo uma tendência de crescimento bastante forte até o mês se setembro passado. Dados do IBGE mostram que a produção industrial teve uma queda de 5,2% em novembro ante o resultado de outubro. Para se ter uma idéia de como o crescimento era destacado, a produção avançou 6,2% na comparação de novembro passado com o mesmo mês de 2007, apesar da retração do penúltimo mês de 2008. Ainda não divulgados, os números industriais de dezembro passado e de janeiro de 2009 não devem ser muito animadores também, como prevêem analistas do mercado.

Operadores ouvidos pelo Banco Central em seu boletim semanal de expectativas já esperam um crescimento de apenas 2% para a economia brasileira neste ano.

Outro indicador negativo envolve o comércio varejista, que viu seu volume de vendas recuar 0,7% em novembro, ante outubro de 2008. As receitas caíram pouco menos, 0,4% no período. Assim como na indústria, a comparação entre novembro passado e o mesmo mês de 2007 aponta resultados bem positivos, de crescimento de 5,1% no volume comercializado e de 12% nas receitas, mesmo com a desaceleração do terceiro trimestre de 2008.

Tais indicadores são alguns dos elementos que têm causado efeitos negativos na economia real. Diariamente ouvimos notícias de redução no número de empregos, com demissões em setores da indústria, bancários e outros. O próprio presidente Luís Inácio Lula da Silva, que tem sido um dos principais portavozes do otimismo, antecipava ao país neste mês de janeiro que em dezembro de 2008 houve forte recuo no número de empregos formais, com carteira de trabalho assinada, o que se confirmou com a divulgação em 19 de janeiro dos dados que apontam o fechamento de mais de 654 mil vagas segundo o Caged – Cadastro Geral de Emprego e Desemprego.

Em um cenário como esse, muitos gestores e empresários podem se desesperar, e suas empresas acabarem sendo “engolidas” pela crise. É justamente isto que devemos evitar com todas as forças. As dificuldades de uma crise exigem atenção redobrada e muito sangue frio. Os sistemas de controle de todos os setores das empresas – desde as compras, passando pela produção ou prestação de serviços, até a pós-venda – devem ser aprimorados, precisam estar equilibrados e perfeitamente administrados, sempre com o intuito de melhorar os resultados.

Vivemos um momento em que é preciso cortar custos, reduzir riscos e enxergar no mercado a possibilidade de prospecção e de fidelização de clientes. É aí que entra a governança corporativa, termo pouco lembrado nos momentos de bonança, mas que é essencial para garantir que uma corporação passe bem pelas turbulências.

Desta forma, é essencial que os gestores atuem com responsabilidade, reduzam os riscos a que a empresa está exposta, gerenciem de forma inteligente o caixa, adequem a estrutura empresarial às demandas, negociem de forma inteligente soluções com fornecedores, instituições financeiras e clientes e, especialmente, nunca entrem em desespero. Adotar princípios da governança corporativa responsável é, mais do nunca, uma atitude sábia para se enfrentar as dificuldades que ainda devem se apresentar ao longo do início deste novo ano.

*Marcelo Gonçalves é sócio-diretor responsável pelo escritório de São José dos Campos da BDO Trevisan.

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