Fonte: G1
“Eu senti medo no primeiro dia, vi que estava ‘sozinho’”, diz o recente empresário Cristiano Dantas, 31 anos.
“Mas quando meu celular começou a tocar com clientes, fornecedores e amigos ligando para saber o que iria fazer, percebi meu valor”, conta.
Muitos diretores, gerentes ou funcionários graduados de grandes empresas foram forçados a deixar seus empregos devido à atual crise econômica.
A Sadia, por exemplo, dispensou 350 funcionários de cargos importantes em todo o mundo, alegando reestruturação. Michel Tilmant, presidente-executivo do banco holandês ING, deixou o cargo. No final de 2008, dois dos principais executivos da Dell saíram da companhia.
No lugar da recolocação, alguns optam por outra maneira de atuar no mercado de trabalho. As mais comuns são lecionar, se aprimorar e trabalhar no exterior, oferecer consultoria ou abrir a própria empresa, caso de Cristiano Dantas.
Casado há sete anos e com uma filha quatro anos, passou oito trabalhando em uma empresa de automação comercial. Ocupava o cargo de gerente nacional de franquias. Em 2008, a empresa foi comprada pela concorrente.
Com a fusão, em junho do mesmo ano, Dantas deixou o cargo. “Fomos pegos de surpresa. Quem assumiu levou suas regras e valores”, diz.
Desligamentos
Márcia Garcia, psicóloga e diretora do Grupo Labor que atende executivos e faz seleção para empresas, aponta causas para os desligamentos.
“Dependendo do perfil da empresa, pode ocorrer a demissão [de executivos] por razões de remuneração ou por mudança de visão estratégica”.
Nahid Chicani, sócio da Partner e Consultor Sênior, especializada em seleção de executivos, afirma que o corte pode ocorrer nos níveis elevados porque a empresa tenta manter a base.
“Às vezes, se demite um executivo. Como conseqüência, salva-se o emprego de 50 operários que teriam mais dificuldade de se recolocar”, diz.
Nova empresa
“Quando saí da empresa, principalmente em uma situação forçada, a frustração foi grande. Gostava das pessoas e a empresa atendia as minhas expectativas”, afirma Dantas. O pior foi enfrentar o dia seguinte.
“Mas o networking me ajudou muito”. Sem saber o que fazer, Dantas percebeu que poderia se aproveitar da situação. “Até os clientes foram pegos de surpresa. Alguns ficaram insatisfeitos ou perdidos. Vi nisso uma oportunidade de atendê-los”, conta.
Na mesma semana, passou a trabalhar como autônomo prestando consultoria para esses clientes da empresa em que trabalhava. Em outubro, ministrou workshops em duas instituições para alunos de tecnologia e administração sobre controle de sistema de gerência de loja – sua especialidade. “As pessoas me procuraram pela experiência. Também vi nos alunos futuros clientes”, diz.
No mesmo período, abriu sua empresa oficialmente. Uniu-se a Felipe Carreira, 27 anos, que também saiu da mesma companhia, e fundaram a SalePro. Atualmente, realizam dois tipos de trabalho: vendas de software para gerenciar varejo e treinamento e consultoria.
“Em 2008, meu objetivo era sobreviver - manter minha família e suprir minhas necessidades. Este ano, é uma época de mais profissionalismo. Nos associarmos a outras empresas e crescer”.
Atualmente, Dantas se associou a uma empresa carioca que fornece mão-de-obra e material. Em sete meses, diz ter conquistado 110 clientes.
Sem estresse e sem salário
"Paulo" (nome fictício), 36 anos, casado, foi demitido no início de dezembro de 2008. Era gerente de tecnologia da informação, responsável por todas as demandas das divisões brasileiras de uma empresa americana de autopeças. Trabalhou no local por quase oito anos.
“Estava desconfiado de que isso iria acontecer, principalmente devido aos resultados financeiros”, diz.
“Foi uma demissão tranquila, mas no momento fiquei chateado. Principalmente, tentando me conscientizar de que não tinha que ir ao escritório de manhã cedo”, diz. Quando se acostumou com a situação, contou que ficou aliviado em não sentir mais a pressão e o estresse. “Mas também não tinha salário”.
Agora, ele abrirá uma empresa. Ele acredita que, até conquistar os cinco primeiros clientes, o novo negócio será difícil. “O CNPJ ainda não está pronto, mas estou fazendo contatos e já tenho clientes. As pessoas precisam acreditar em você”.
Perfil
As vagas deixadas por esses profissionais podem ser preenchidas por outros que recebem um salário menor, as funções podem ser distribuídas pelos colaboradores que ficaram ou serem contratados consultores no lugar. Inclusive, diretores demitidos de outras empresas.
“Até pela própria natureza, os jovens tem a ousadia e capacidade de se aventurar no próprio negócio ou mudando de área. Eles passam por competição enorme desde a faculdade. As pessoas com cerca de 40 anos ou mais, em geral, procuram se recolocar em outras posições, como consultores”, explica Nahid Chicani, da Partner e Consultor Sênior.
“Os profissionais mais antigos, com história e diversas experiências, têm muito a acrescentar para as empresas como consultores”, completa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário