Por: Eloi Zanetti - Consultor de Marketing
Nunca o ambiente empresarial brasileiro contou com tanta gente "bem preparada" à disposição dos gerenciamentos dos negócios como nos dias atuais. Por outro lado, nunca se viu tanto desperdício financeiro, de tempo e de esforço humano por causa de projetos mal elaborados, planos infalíveis e má-gestão administrativa. As possibilidades se abriram e hoje todo mundo é doutor em alguma coisa - menos na arte da simplicidade. Com mestres em gerenciamento brotando por todos os cantos, sobram arrogância e vaidade e faltam simplicidade e humildade.
De uns tempos para cá, aqueles que sabem resolver as coisas, receosos de serem tachados de simplórios, deixam de expor suas idéias e opiniões porque pode pegar mal e parecer ingênuo falar o óbvio ululante. Afinal, as cabeças coroadas foram recrutadas por meio de complexos processos de busca e seleção. Seguem os gurus da moda e discutem processos administrativos inovadores com nomes "que a gente nunca ouviu falar". São íntimos do linguajar técnico-acadêmico, frequentam com desenvoltura as universidades estrangeiras e muito pouco o nosso quintal - o enorme mercado brasileiro, seu povo e seus costumes.
Em meio a tanta empáfia, o funcionário comum, aquele que detém a experiência e sabe resolver as coisas de forma simples e direta, se sente intimidado e pensa: "Vou ficar quieto e na minha, porque eles é que sabem das coisas. Não adianta dar opinião porque a conversa ainda não chegou ao meu setor." É o velho Brasil do "canudo" e do "doutor" repetindo-se em um ambiente que deveria ser de inovação e modernidade - o empresarial.
A conversa é parecida em toda parte. Promessas de metas a qualquer custo, cortes implacáveis nas despesas, agregação de valores, quebra de paradigmas, mudanças, reengenharias, incorporações, satisfação aos stakeholders, sustentabilidade e governança corporativa. Eles chegam com suas mochilas da moda e seus laptops carregados de apresentações cheias de efeitos e virtuosismos, mas vazias de conteúdo e praticidade. Como dizia o humorista: "Tá todo mundo enrolando." Mas, como a busca da simplicidade dá muito trabalho, criam-se dificuldades, justamente para esconder incompetências. Desconfie daqueles que não sabem sintetizar e explicar um projeto em apenas duas folhas de papel.
Foram fabricadas tantas cabeças coroadas nos últimos tempos, que encontrar alguém que pense de forma simples e enxergue o óbvio está como procurar uma mosca branca. É famosa a história do vendedor de ração animal que replicou um arrogante gerente de produto que tentava justificar seu baixo desempenho comercial: "Ora, a nossa ração de cachorro não vende porque a cachorrada não gosta dela."
Está na hora de reler um clássico da administração, "O Óbvio Adams", um livrinho escrito em 1916 que trata da história de um cidadão que só enxergava o óbvio e por causa disso resolvia os problemas mais complicados. Personagem que foi replicado na figura do senhor Chance, vivido por Peter Sellers no filme "Muito Além do Jardim". E, atenção, simples não quer dizer simplório.
Num país que pela formação cartorial tem na cultura o gosto pela complicação ser visto como simples é ser visto como esquisito. Complicamos tanto a nossa legislação e sistema político que beiramos à ingovernabilidade. Criamos tantos emaranhados nas leis trabalhistas e ambientais que inviabilizamos empregos e o bom andamento dos processos. Por causa deste nosso gosto em dificultar as coisas, tornamo-nos campeões em perda de tempo, dinheiro e oportunidades. Nossos concorrentes no mercado internacional adoram a nossa maneira de fazer negócios. Faz parte da cultura brasileira criar dificuldades para vender facilidades.
É preciso entender que a simplicidade, por carregar na sua essência o máximo de sofisticação e elegância, é como a verdade - nos liberta.
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