Na última década do Século XX, percebeu-se uma dedicação profunda às pesquisas do cérebro, à inteligência, às emoções, às mazelas e às incertezas dos buracos negros desconhecidos pela ciência e que tanto assombram os indivíduos. Processo esse que não é de forma alguma privilégio de um ou de outrem, mas sim, são lapsos, gaps, lacunas de origem química ou não, cujas consequências se apresentam nessa forma de patologia: a depressão. Qualquer um de nós, sem piedade de credo ou cor, hierarquia social ou riqueza material não estamos imunes a ela.
Dificuldades, falhas, pontos fracos e possibilidades de melhorias fazem parte da existência humana. Como a alegria e a felicidade também. Temperamentos à parte e considerados os diferentes perfis de personalidade, ninguém está livre de vivenciar este ou qualquer outro episódio, seja negativo ou quisera positivo, que nos impinja a tal patologia ou outra de ordem emocional.
Que a depressão ou distimia - como alguns profissionais costumam diagnosticar em casos mais leves - é impeditiva, limitadora, arrebatadora, coloca a pessoa na escuridão, na solidão e a emudece, não há dúvida alguma. Mas em nenhum momento, imagina-se isolar a pessoa afetada e ejetá-la do grupo, da sociedade ou ignorá-la. Tratá-la como uma coitada, tendo piedade, nem pensar. Muito menos considerar que são seres humanos inferiores e intelectualmente menos providos do que os alegres e felizes militantes ativos da vida.
Nos últimos tempos percebe-se uma popularização da palavra depressão, engatado no vácuo do famoso e difamado estresse, aquele mal-estar de executivos; sim, porque executivo não tem depressão, fica estressado. Estão em todos os lugares, estampados em artigos rotineiros de revistas, jornais e em debates de televisão. Pulverizando e confundindo a depressão com a ausência de religiosidade, falta de caráter, falta do que fazer, baixo astral, fricote, ataque de histerismo. Alguns chegam atribuir à frescura de mulher.
Há uma linha tênue entre as informações fidedignas, de base científica, literatura fundamentada sobre o comportamento humano e sua psiquê, visão holística, modelos de gestão organizacional, e o equívoco do charlatanismo de alguns tidos consultores a até religiosos, que confundem problemas emocionais, doença mental, com ausência de força de vontade ou indisciplina. Há aqueles impactantes que costumam chamar de "fracassados", "loosers" e fazem sucesso vendendo best bellers motivacionais.
Espera-se que fruto deste processo polêmico, ainda bastante nebuloso e doloroso para os acometidos pelas doenças da mente, surjam a comunhão entre o avanço da ciência através de pesquisas na área cerebral, ao poder da comunicação e tecnologia disponíveis do mundo moderno. Que se alcancem os conhecimentos desejáveis tanto para o mundo organizacional quanto para o pessoal e que haja a liberdade de expressão entre líderes e liderados, para que as informações se transformem em conhecimento e que esses possam ser disseminados e aplicados a todos infinitamente.
As pessoas, de maneira geral, são muito cheias de pruridos para tratar deste tipo de assunto. Nossa sociedade e cultura não nos permitem discorrer sobre o tema. A hipocrisia de nossas atitudes fala mais alto e nossas vaidades nos emburrecem. É mais cômodo aceitar que estamos bem. Refletir sobre nós mesmos exige muito de nossas amarras internas e irá nos fazer sofrer. Caso seja uma atitude isolada, vamos parecer uma minoria enlouquecida e revoltada; seremos execrados.
Muitos profissionais, salvo raras exceções, passam suas vidas se sentindo psicologicamente aterrorizados em seus ambientes de trabalho, subservientes às hierarquias, portando-se como seres monitorados e manipulados. Óbvio que são pessoas que já carregam esse perfil comportamental de suas origens. Comportam-se da mesma forma em relação aos seus pares, família e amigos. Quando solicitados a opinar, eleger, decidir diante de um desafio, recuam, acuados diante o inusitado, pois não exercitam o hábito de verbalizar seus sentimentos.
Para a empresa, é mais barato e cômodo mantê-los assim, não incomodam, mas, também, em momento algum agregam benefícios à organização. Geralmente são considerados bons funcionários, pois cumprem horários e normas. São aqueles famosos disciplinados. Não raro expressam emoções, quiçá pensam, já que correm o risco de externar conhecimento.
Sabedor que não sabe tudo, seduzido pelo descortinar do conhecimento, o novo modelo de profissional agrega pessoas com perfis ansiosos, pois têm a noção exata da necessidade de entender e conhecer o que se passa ao redor. Não se satisfaz com o pouco que lhes cerca, muito menos com o que simplesmente lhes é despejado.
Acima dos interesses capitalistas em que vivemos, que nos são básicos à subsistência e que até apreciamos muito, pois fomos criados almejando o conforto, dinheiro, conhecimento. Somos vaidosos e ambiciosos; faz-se imperativo prevalecer a serenidade da alma e do espírito, a fidelidade de sentimentos.
A partir do momento que a vaidade egoísta pessoal se sobrepõe à essência das relações interpessoais, é sinal de que o processo é uma fraude. O profissional dos novos tempos não se intimida em externar sua criatividade. Chavões do tipo "manda quem pode, obedece quem tem juízo", ser dissimulado, engolir sapo, manter o emprego, são insubordinações já não mais admissíveis e inaceitáveis nos mercados de trabalho competitivos globais.
Assim são os sobreviventes das emoções depressivas, obviamente quando não sucumbem ao desafio do enfrentamento da doença, além de continuarem vivos, amadurecem, pois tiveram a humildade de admitir sua limitação patológica e impotência diante da questão. Buscam auxílio externo profissional. Permitem-se a readaptações e às inovações que a vida lhes impõe. O mesmo processo deveria servir de exemplo aos dirigentes empresariais, aprendendo saber recuar em tempo hábil.
Pobres e tristes são aqueles que se negam admitir quaisquer possibilidades de falha em suas atitudes, não corrigem rotas de comportamentos e se recusam aprender a pedir perdão. São seres estáticos, imutáveis, emperrados em suas heranças de uma sociedade machista e tendenciosamente acobertadora dos deslizes imperativos, amparados em seus paletós e cargos superiores. Mas, e quando os cargos forem embora? O sentimento que fica é que nem os amigos sobrarão, porque nunca os tiveram.
* A autora é tem 53 anos, é nascida em Florianópolis, SC, graduada em Pedagogia pela Faculdade de Educação da UDESC, pós-graduada em Marketing, especializada em MBA em Administração Global pela UDESC, Florianópolis em parceria com a Universidade Independente de Lisboa – Unl, Portugal. Tem Mestrado profissionalizante em Administração, obtido na UDESC, Florianópolis, SC, em 2005. Área de Pesquisa: Comportamento Organizacional: Uma Análise em Função da Prática de Gestão segundo a Percepção dos Dirigentes Industriais. Atua profissionalmente na área de Gestão de Pessoas da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina, no processo de Avaliação de Desempenho por Competências.
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