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5.29.2009

Com ela não tem crise

Por: Daniel Consani – Revista Profissionais e Negócios

Justamente na semana em que o Ministério do Trabalho não refutou a projeção de economistas que acreditam que o nível de desemprego no país deve atingir uma média de 9% em 2009, na semana em que a Embraer demitiu 4.200 funcionários em função da queda de 30% nas encomendas de aeronaves, no mesmo período em que as principais montadoras instaladas por aqui demitiram milhares, eu conversei com a diretora de recursos humanos da rede de restaurantes fast-food Habib’s e a crise financeira internacional, por cerca de 30 minutos (tempo de duração de nossa conversa), pareceu um conto de ficção dos mais imaginativos.

Sim, o Habib’s está completamente inserido na realidade do mercado brasileiro e conectado com as urgências e instabilidades desse cenário, mas parece ter algo simples e fundamental para qualquer empresa vencedora: atitude positiva. Essa pelo menos é inegavelmente a postura adotada por Ana Paula César na entrevista que você confere a seguir.

A prática de atendimento do Habib’s nasceu bastante clara. Desde a sua primeira loja, inaugurada em 1988, na rua Cerro Corá em São Paulo, a rede tinha por objetivo principal servir bons produtos, com rapidez, aos menores preços possíveis, em ambiente limpo e agradável. Hoje, 21 anos depois, são mais de 305 restaurantes no Brasil. Trata-se da maior rede de fast-food árabe do mundo. Para se ter ideia da dimensão, só em 2008, o Habib´s vendeu mais de 660 milhões de esfihas, o produto carro-chefe, e alcançou a marca de 130 milhões de clientes atendidos.

Naturalmente, essa clareza de foco mostrada na gestão do Habib’s acaba refletida nas políticas de gestão de pessoas da rede, que, se depender do empenho de Ana Paula César, logo figurará nas listas de melhores empresas para trabalhar.

Tamanho não falta. De fato, com 12 centrais de produção espalhadas de norte a sul do país e empresas coligadas à marca, o Habib´s se tornou um dos grandes grupos brasileiros na área de alimentação. Essa intimidade com o consumidor reforçou a estratégia da rede em estar engajada em programas sociais, por meio de doações de alimentos que beneficiam de crianças carentes.

No bate-papo a seguir, a gestora de pessoas fala um pouco de sua trajetória profissional, comenta os desafios frente ao RH do Habib’s, posto que ocupa há dois anos, e coloca a crise para correr: “Aqui a crise não chegou. Estamos cheios de vagas”, conta, sorrindo.

profissional&negócios – Pode não parecer, mas você tem uma carreira de 22 anos na área de recursos humanos. Quais foram os seus principais desafios?

Ana Paula César – Pois é, são 22 anos de carreira, mas eu sei que não parece (risos). Bom, tenho formação em Administração e depois fiz pós-graduação em RH na FAAP. Mais tarde, fiz também um MBA internacional na USP e esse foi o divisor de águas da minha carreira. Por quê? Porque foi só a partir de então que eu passei, realmente, a olhar o RH como parte do negócio. Isso foi muito importante para mim. Agora, os principais desafios eu enfrentei em algumas empresas em que atuei, como na Dixie Toga, na Quaker, onde cuidei do projeto de informatização de toda a área de gestão de pessoas, na Qualix, quando implantei a gestão por resultados, entre outras.

p&n – Você está há dois anos à frente da direção de recursos humanos do Habib’s. Como e por que você aceitou mais esse desafio?

César – Cheguei aqui através de um headhunter mesmo. Foi interessante, porque o Habib’s é uma empresa nova e não tinha uma área de RH voltada para os negócios da companhia, era algo muito mais operacional mesmo. O meu desafio era mudar esse cenário. O meu primeiro projeto foi o de mudar o sistema de estrutura organizacional, que era muito departamentalizado. Hoje, temos uma estrutura mais orgânica, mais flexível hierarquicamente, com todo mundo orientado para os resultados. Além disso, outros desafios foram o estabelecimento de novas metas para o RH e a busca por novas ferramentas de recrutamento, visando uma seleção mais ágil. Agora, meus esforços estão voltados para a Universidade Corporativa e para a remuneração variável.

p&n – Você chegou ao Habib’s depois de ter atuado em empresas de ramos de atuação bastante distintos. Quais são as particularidades do trabalho junto a uma rede de restaurantes fast-food?

César – Eu costumo dizer que cada empresa tem a sua cultura organizacional. O mais interessante de estar aqui no Habib’s reside no fato de ser uma empresa nova, com pouco mais de 20 anos de vida, que cresceu muito rapidamente. E no RH eu comecei um trabalho totalmente novo, sem vícios e com muitas expectativas, o que me deixa muito motivada. Sou a primeira diretora de RH do Habib’s e sempre tive carta branca do acionista, sr. Alberto Saraiva, para fazer as coisas que tinham de ser feitas.

p&n – Em dois anos de trabalho, quais programas de RH você definiria como os mais importantes no Habib’s atualmente?

César – A nossa maior bandeira, hoje, é, sem dúvida, a Universidade Corporativa e o meu grande desafio está em criar a cultura para a educação em nosso ambiente corporativo. Além disso, para 2009, as minha principais atividades devem girar em torno da consolidação da nova estrutura organizacional nas onze filiais pelo Brasil todo, a exemplo do que já acontece em São Paulo e da coordenação do nosso planejamento estratégico junto às nossas lideranças e à presidência.

p&n – De maneira geral, como funciona o recrutamento e o treinamento dos funcionários do Habib’s?

César – Nós temos a central do Habib’s aqui em São Paulo e atendemos cerca de 130 lojas no Estado todo. Nosso trabalho é mais ou menos como o de uma consultoria. Como franqueadores, prestamos serviços de recrutamento para os franqueados. Nosso compromisso é atender e preencher qualquer função operacional em até 15 dias, com um profissional adequado e treinado. No caso de um cargo de liderança, o prazo máximo é de 30 dias.

p&n – As filiais podem contratar e treinar por conta própria?

César – Sim, eles podem. Mas hoje, como o recrutamento ficou ágil e a profissional selecionadora vai até a loja e entende a necessidade de maneira completa, os franqueados preferem contratar por nós. No percentual da franquia pago mensalmente, já está inclusa essa espécie de “consultoria” jurídica e de recrutamento, embora para a gente não faça a menor diferença se a loja é franqueada ou da rede. Com relação ao treinamento, posso dizer que antes era estritamente técnico, sobre como abrir uma esfiha, por exemplo. Mas hoje, não. O meu primeiro treinamento foi sobre a importância de montar uma boa equipe de trabalho.

p&n – Essa filosofia será estendida e aprimorada com a Universidade Corporativa, correto?

César – Sem dúvida. Acreditamos que a Universidade nos traz uma nova vantagem competitiva, pois agrega valor à educação como prática diária dos colaboradores, garantindo assim um processo de crescimento humano sustentável.

p&n – Gradativamente, a crise financeira mundial tem abalado diversas empresas brasileiras, principalmente do setor financeiro e industrial. De que maneira a crise tem atingido o RH do Habib’s?

César – A crise não nos atingiu de forma alguma. Estamos lotados de vagas. Essa é a nossa filosofia de sucesso: não temos dispensas. Estamos de volta com a Campanha 49 (esfiha de carne a R$ 0,49) e essa é a nossa resposta à crise, se bem que essa já é uma campanha clássica do Habib’s. Mas nenhum projeto, nenhuma ação foi interrompida em função da crise.

p&n – Ainda assim, em meio às turbulências, muitas entidades de classe têm feito força junto ao Governo acerca da necessidade de mudanças na CLT. O que você acha disso?

César – Acho que é uma excelente oportunidade. A hora é agora. O funcionário precisa parar de ser visto com um ser indefeso. Digo isso, mas não tenho problemas com sindicatos, uma vez que os funcionários dos restaurantes são de responsabilidade dos franqueados. Mas acho que está mais do que na hora de flexibilizar a CLT.

p&n – Quais seriam as perspectivas da gestão de pessoas do Habib’s para os próximos anos?

César – Queremos fortalecer os outros braços da Universidade Corporativa, aplicar a gestão por resultados em outras filiais, consolidar nosso plano estratégico, desenvolver programas voltados às nossas lideranças internas e colocar o Habib’s na lista das empresas para trabalhar. Tudo isso.

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