Por: Eline Kullock* - Portal Administradores
Em uma geração que se comunica pelo computador, a dificuldade dos jovens está em expressar suas atitudes fora da internet
No decorrer da vida, nós, profissionais de RH, aprendemos a ler todos os sinais da comunicação corporal. Quando alguém cruza os braços, está resistente, quando olha para a esquerda, para a direita, tudo tem um significado. Não sei dizer como aprendemos isso, mas no simples convívio com as pessoas sempre foi possível detectar e entender os mais diversos sentimentos ou expressões.
Pergunto-me como será essa leitura corporal numa geração que se comunica pelo computador.
A tropa da geração Y não tem mesmo essa leitura do corpo. Não aprenderam com ela. Quando levava bronca da mãe, era com ela falando ao telefone ao mesmo tempo em que lixava as unhas. Para falar com o pai, só com o jornal na frente. Isso, quando ele chegava do trabalho antes das 23h.
Na minha época, quando minha mãe me dava aquele olhar 48, eu sabia que ela estava muito zangada e eu deveria mudar alguma coisa. Hoje, quando lanço o olhar 48 para o meu filho, ele responde: "O que foi mãe? Fala logo, pô".
E então esse jovem entra na empresa e chega atrasado. O chefe lhe dá um olhar furioso e ele não entende. O chefe bate o pé com os braços cruzados em sua frente e ele, que está provavelmente ouvindo o Ipod, não sabe o que o chefe quer.
O que acontece? Ele está enfrentando a autoridade? Não, nesse caso, ele simplesmente não entendeu o porquê de o chefe estar furioso.
Precisamos entender que estamos trabalhando com outra tribo. Cada tribo tem seus códigos próprios.
Essa turma passou a vida no computador e seus códigos são outros. E então, como fazer?
Sentar e conversar, explicando com palavras o que é que incomoda. Se você estiver irritado porque seu jovem talento chega todo dia 15 minutos atrasado, sente com ele e fale. Eu aposto que ele vai entender e procurar estar sempre no horário, se isso tanto incomoda.
O importante, novamente, é pensar nas tribos. Mesmo que eles se pareçam conosco, mesmo que se vistam de forma parecida (temos cada vez menos opções), eles pensam diferente e não entendem coisas que nos parecem óbvias.
Caso o mais difícil nas organizações é a comunicação, faça um bom exercício falando sobre esse assunto com seu trainee. Você vai ver que coisas que pareciam muito difíceis podem se tornar fáceis de resolver.
* Eline Kullock - presidente do Grupo Foco, consultoria de RH que fundou há mais de 17 anos e hoje conta com 350 funcionários e filiais em todo o Brasil. Eline pesquisa há vários anos tendências do comportamento dos jovens e a influência dos videogames em sua atuação profissional. É formada em administração de empresas pela FGV-RJ e MBA Executivo pela Coppead – UFRJ.
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