Por: Dana Mattioli, do Wall Street Journal
Robert Palmer estava sentado em sua mesa em uma companhia de softwares dos Estados Unidos, quando ouviu por acaso uma conversa delicada na baia ao lado. O principal programador da companhia estava falando com outro colega sobre desistir de um grande projeto. O cancelamento resultaria em outra rodada de demissões. Palmer, 38, passou a prestar mais atenção à conversa ao seu lado.
Embora bisbilhotar conversas alheias no local de trabalho seja algo que acontece há muito tempo, os temores com demissões e reestruturações corporativas vêm deixando os trabalhadores mais atentos ao que está acontecendo ao redor deles. E enquanto os funcionários "escutam atrás das portas", os profissionais da área de recursos humanos afirmam que estão se deparando com mais frequência com casos de disseminação de boatos no local de trabalho.
Após as demissões em massa ocorridas nos EUA no quarto trimestre de 2008, a Society for Human Resource Management constatou que 23% dos profissionais de RH consultados em uma pesquisa se depararam com um número significativamente maior de escutas às escondidas no local de trabalho nos últimos 12 meses. Enquanto isso, 54% disseram ter percebido um aumento nas fofocas e boatos sobre "downsizing" e demissões em seus locais de trabalho.
As empresas estão tomando medidas para conter o problema da bisbilhotice. A Dynasound, uma companhia de tecnologia de isolamentos acústicos, registrou um aumento de 141% nas vendas nos últimos dois anos. Tom Keonig, presidente da Dynasound, diz que nos últimos meses está havendo um aumento do interesse nos equipamentos de prevenção de bisbilhotice, que mascaram a inteligibilidade ou impedem que conversas particulares vazem das salas dos conselhos de administração e outras áreas sensíveis.
Com as turbulências financeiras, "as companhias não querem que ninguém saiba quais são seus planos de sobrevivência, que podem levar à reorganização, terceirização e ao fechamento de unidades", diz Koenig.
A ADI Workplace Acoustics, outra empresa de sistemas de isolamento acústico que acaba de concluir seu primeiro ano de negócios, diz que suas projeções de vendas foram superadas em 20%. "Os departamentos de RH são um grande sucesso para nós", afirma o presidente Steve Johnson. Erika Perales, uma ex-gerente de RH de uma unidade de produção em Garden Grove, na Califórnia, já desativada, diz que quando os boatos do fechamento começaram a circular, os funcionários passaram a prestar atenção às suas conversas. Ela chegou a pegar um deles tentando escutar uma conversa sua com um gerente de fábrica pela parede.
Glenn Floyd, diretor sênior de campo e RH na sede da Ricoh Americas Corporation de Atlanta, diz que vem pegando mais funcionários circulando em certos lugares, como os corredores dos escritórios dos executivos, onde há uma probabilidade maior deles descobrirem algo sobre a situação da companhia ou possíveis demissões.
A companhia está passando no momento por uma reorganização e Floyd revela que muitos funcionários estão inquietos. "Eu acho que todo mundo está preocupado com a estabilidade no momento. As pessoas chegam para trabalhar um determinado dia e alguém com quem elas trabalharam por 20 anos não está mais lá, o que faz essas pessoas se perguntarem se não serão os próximos", diz ele.
Para impedir o vazamento de informações privadas, Floyd afirma que ele e a administração estão agora conversando a portas fechadas, em vez de dividirem até mesmo informações boas em lugares públicos, como os corredores da empresa ou uma sala aberta. Na DNC Parks & Resorts de New Hampshire, a lanchonete dos funcionários é um ponto quente de bisbilhotice, afirma a diretora de recursos humanos Deborah Brown. Ela diz que alguns funcionários chegam ao ponto de sentarem perto de executivos graduados na lanchonete, inclusive ela.
"Por ser da área de RH, os funcionários sabem que se há algo que eles podem querer ouvir, essa coisa virá da minha mesa", diz ela. Recentemente, Deborah Brown confrontou os funcionários e disse a eles que sabia que estava sendo bisbilhotada. Após o confronto, ela disse que tentou acalmar os temores de demissão dos empregados. Mas, para alguns deles, as escutas sorrateiras são um meio de sobrevivência. Bisi Jackson, 30, trabalha num local em que os espaços são divididos por baias, como especialista em comunicações de saúde, e ela concorda.
"Com as atuais preocupações com a segurança no trabalho, a todo momento meus ouvidos captam conversar sobre o orçamento", diz ela. "Os administradores nunca querem dar um alerta sobre demissões ou reduções de salários, e você nunca fica sabendo até o dia em que isso acontece. Quando posso, gosto de me preparar para isso", acrescenta. Jackson diz que em seu emprego anterior ela ouviu que uma concessão na qual estava trabalhando não seria renovada. Então, ela soube que deveria começar a busca emprego antes de receber a notícia de sua demissão.
E alguns chefes afirmam que também usam as escutas sorrateiras como meio de se manterem afinados com os funcionários. Art Stevens, sócio-gerente da StevensGouldPincus, uma firma de consultoria de relações públicas de Nova York, encoraja os administradores a bisbilhotarem empregados. Ele diz que as "escutas de alerta" podem ser usadas produtivamente, em vez de maldosamente.
Quando Stevens administrava sua própria empresa, ouvir os funcionários reclamarem das políticas da companhia o ajudou a incorporar práticas de negócios melhores. Após escutar duas funcionárias se queixando do programa de licença-maternidade da empresa, ele decidiu aperfeiçoá-lo. "Às vezes, ouvir conversas pode levar a conclusões construtivas, não é só fofoca" , diz.
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