..:: Por: Adriana Cardoso | Valor Online
A despeito de sofrer com gargalos em sua regulamentação, o setor de suplementação alimentar movimenta cerca de R$ 1 bilhão por ano no mercado brasileiro, levado pelo aumento na renda do brasileiro, da prática de atividades físicas, da busca incessante pelo corpo perfeito ou para ter mais qualidade de vida.
Dentro desse filão, a nutrição esportiva é um dos que mais crescem. Pesquisa da consultoria Euromonitor, de 2010, mostra o Brasil como o segundo maior mercado da América Latina (México em primeiro), com vendas que atingiram US$ 138 milhões, alta de 27% sobre 2009. No mundo, o país dividia com a Alemanha 3% das vendas mundiais (o maior mercado são os Estados Unidos), que atingiram US$ 5 bilhões há três anos, segundo a Euromonitor.
A secretária-executiva da Associação Brasileira das Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri), Karina Kwasnicka, diz que o mercado brasileiro é relativamente novo e há muito o que crescer. "O brasileiro é ávido por estética, muito mais até do que por performance (em atividade física). O aumento do conhecimento das pessoas aumentou a procura por esses produtos", diz.
A falta de regulamentação brasileira para alguns insumos importados, o contrabando, o dólar alto e a compra pela internet de produtos no mercado americano são apontados como pontos sensíveis. Ainda assim, empresas que antes existiam somente aos atletas de alta performance e que foram levadas a incrementar seu portfólio por conta das mudanças nos hábitos da população, comemoram os resultados.
Engana-se quem aposta que alimento de atleta tem de ser só proteína em pó, creatina, bebidas esportivas, clara de ovo e barrinhas de proteína. A Probiótica, uma das empresas mais antigas no Brasil na área de nutrição esportiva, está lançando uma linha gourmet que inclui panquecas, cup cakes, barrinhas e waffles para aqueles que querem ter o corpo sarado sem perder o prazer de comer.
"Esse é um mercado dinâmico e em franca ascensão. Houve uma quebra de paradigmas e, hoje, as pessoas são muito mais esclarecidas", diz Gustavo Hohendorff, gerente de marketing da empresa, cujas vendas devem crescer 38% este ano, para a casa dos R$ 220 milhões.
A maior parte das vendas desses produtos se concentra nas chamadas Healthfood shops, que representam 92% do total. As demais são distribuídas entre farmácias e drogarias (4,2%) e internet (3,7%), segundo a Euromonitor.
As academias de ginástica também recebem parte das vendas. E, para este filão, a Integralmédica, empresa que completou 30 anos em agosto e que é uma das patrocinadoras da UFC (Ultimate Fighting Championship), lançou uma novidade: uma máquina de bebidas esportivas, no estilo das máquinas de café, refrigerantes e salgadinhos. "Terminou o treino, é só por um copinho e retirar sua bebida", conta Felipe Bragança, CEO da empresa.
O equipamento, fruto de uma parceria da Integralmédica com outra empresa, já está em teste em cinco academias de São Paulo e, segundo Bragança, a aceitação tem sido boa. A empresa está investindo R$ 8 milhões este ano, o que inclui a ampliação da capacidade de produção de sua fábrica em Embu-Guaçu, região metropolitana de São Paulo.
A rede de franquias Sports Nutrition Center (SNC) faturou R$ 118 milhões em 2012 e conta com a abertura de 30 novas franqueadas este ano. Dos 27 Estados brasileiros, a empresa está presente em 20. Das 130 lojas franqueadas atuais - incluindo duas próprias -, 40% estão presentes em shoppings e 60% são lojas de rua. As franquias variam de R$ 98 mil (quiosques) a R$ 170 mil (lojas de rua).
Fabio Ramos, diretor comercial da rede, afirma que cada loja tem uma média de faturamento mensal na casa dos R$ 100 mil, mas poderia ser ainda melhor se a faixa etária com mais poder aquisitivo, na faixa dos 40, 50 anos, tivesse mais conhecimento sobre os benefícios da suplementação alimentar. "Os jovens na faixa dos 18, 25 anos são os que detêm mais conhecimento do setor, mas o poder aquisitivo deles é relativamente baixo", explica.
Com foco no mercado de nutrição esportiva para atletas de alta performance, como os praticantes de triátlon, a Herbalife Brasil entrou este ano no mercado de nutrição esportiva. Mas, diferentemente da maioria das empresas que usam farmácias e lojas específicas, a multinacional americana vai usar o canal de vendas direta com o consumidor, nos moldes de como comercializa o shake para controle de peso. "Nosso objetivo é estabelecer um contato mais direto com o consumidor, suprindo-o com todos os detalhes e informações possíveis sobre o produto", diz Jordan Rizetto, diretor de marketing da filial brasileira.
No entanto, os "milagrosos" shakes continuam sendo o carro-chefe da empresa. Rizetto afirma que a estratégia da Herbalife no país é reforçar o marketing de olho na Copa do Mundo e na Olimpíada de 2016, além do treinamento dos distribuidores. Sem detalhar valores, Rizetto conta que o Brasil é o quarto maior mercado da Herbalife no mundo (EUA em primeiro) e que, só neste semestre, as vendas cresceram 36,2% sobre a mesma base de 2012.
Nem tudo é industrializado no mercado da suplementação. A descoberta pela ciência do poder milagroso de sementes como chia, quinua, linhaça e amaranto disparou o crescimento do setor de alimentação natural.
A Mãe Terra, uma das pioneiras no mercado brasileiro de alimentos naturais, possui uma linha de aveias, granolas, cookies e barrinhas turbinadas com essas sementes. Em outubro, a empresa vai lançar o Trato Fit, uma mistura de chia, linhaça e aveia em pó para incrementar bebidas.
Como a maioria desses produtos é cara, Alexandre Borges, sócio-diretor da Mãe Terra, diz que um dos principais desafios é ultrapassá-los da borda da classe A. Para isso, destaca a linhaça. "A maior parte da linhaça comercializada no Brasil vem do Canadá, mas a nossa é nacional", afirma.
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