..:: Por: Josias de Souza | UOL Notícias | Economia
Como todos os meios de comunicação do país, a televisão estatal noticiou entrevista concedida por Dilma Rousseff na Rússia. Ela relatou encontro que tivera na véspera com Barack Obama. Disse que o colega americano assumira responsabilidade “direta e pessoal” pela apuração de ações de espionagem dos EUA no Brasil. Comprometera-se a dar uma solução até esta quarta-feira (11). Não deu.
A Casa Branca chegou a se manifestar sobre o tema na noite passada. A responsabilidade “direta e pessoal” de Obama resultou numa nota chocha. Assina a peça um funcionário de terceiro escalão. Chama-se Caitlin Hayden. É porta-voz do Conselho de Segurança Nacional —NSC, na sigla em inglês. O órgão é chefiado por Susan Rice, com quem o chanceler brasileiro Luiz Alberto Figueiredo se reuniu por uma hora e quinze minutos. O Planalto esperava muito mais.
No seu texto, o porta-voz Caitlin Hayden fez anotações dicotômicas. Numa, sustentou que algumas das informações veiculadas no Brasil “distorceram” o trabalho de inteligência feito pelo governo americano. Noutra, reconheceu que as notícias “levantaram questões legítimas para nossos amigos e aliados sobre as capacidades que são empregadas.” O mais importante está nas entrelinhas: “distorcidas” ou “legítimas”, as manchetes tratam de algo que a nota não nega: espiona-se.
Na entrevista de seis dias atrás, Dilma informara ter dito Obama que não estava atrás de um mero pedido de “desculpas”. Achava “importante que fosse solucionado com rapidez” o problema. A nota do sub de Susan Rice não traz nada que se assemelhe a uma retratação. Limita-se a reiterar a desconversa que vem se arrastando por mais de dois meses.
Os EUA “estão comprometidos em trabalhar com o Brasil para enfrentar essas preocupações, ao mesmo tempo em que continuam a trabalhar juntos numa agenda conjunta de iniciativas bilaterais, regionais e globais”, escreveu Caitlin Hayden. O texto também não menciona soluções. Em verdade, o governo americano parece não enxergar nem o problema apontado pelo Brasil. “O time de segurança nacional dos EUA está realizando uma ampla revisão para examinar as atividades de inteligência do país”, anotou Caitlin Hayden.
O que se deseja, informou o porta-voz, é ajustar essas ações para que elas correspondam ao que os EUA “devem fazer”, não ao que “podem fazer”. Em português: embora tenhamos poderes para violar as comunicações do mundo, não precisamos grampear Dilma e a Petrobras. Ou, por outra, devemos continuar grampreando. Só que quando grampearmos, não permitiremos mais que a notícia vaze.
Dilma tem viagem marcada para Washington no dia 23 de outubro. Na entrevista que deu na Rússia, ela condicionou sua ida à respostas de Obama. “Minha viagem depende de condições políticas. Eu quero saber tudo o que tem [sobre a espionagem feita no Brasil]. A palavra tudo é muito sintética, ela abrange tudo, tudinho. Em inglês, everithing.” Há mais de dois meses que Dilma tenta tudo. O diabo é que tudo não quis nada com ela.
Em Washington, o chanceler Figueiredo saiu do encontro com Susan Rice sem dar declarações aos jornalistas. Decerto não tinha o que dizer. Dilma talvez não possa silenciar do mesmo modo. Sob pena de converter sua indignação numa crise-Alkaseltzer: tempestade em copo d’água. Pode ser bom para os negócios bilaterais. Mas é péssimo para a imagem de uma recandidata que se vende como alguém incapaz de levar desaforo pra casa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário