
Agenda do RH, por Flávia Garbo
1º dia: Bem-vindo ao RH! Que dia feliz! Você sempre quis trabalhar com pessoas e esta é sua grande chance. Surge a primeira solicitação: seu cliente precisa de um profissional com MBA, Inglês e Mandarim fluentes, 15 anos de experiência no segmento e, na área, salário R$ 1.000,00. Que desafio!
2º dia: Você continua procurando aquele colaborador, afinal, é o seu grande desafio! Enquanto isso, você começa a desenvolver seu primeiro treinamento comportamental. Realiza várias pesquisas, busca os mais modernos recursos. Estuda o calendário para agendar uma data em que todos possam participar.
3º dia: Seu cliente liga dizendo que não precisa mais fazer aquele processo seletivo, porque ele já encontrou o colaborador. Fala também que é uma ótima indicação, no entanto, quando você vai conhecer a simpática pessoa, descobre que a mesma ainda está cursando faculdade, balbucia um Inglês primário, está iniciando as atividades na área e foi contratada por R$ 1.500,00. Ok! Ok! Você entende que o profissional deve ter suas qualidades. Essas coisas acontecem etc.
4º dia: Seu treinamento está pronto! Vamos convocar os candidatos? Mas, lembre-se: tem que ser na data que não atrapalhe o fluxo das áreas de ninguém. E lá vão os convites! Você está orgulhoso de sua obra e não vê a hora dela acontecer.

6º dia: O telefone toca: - Olha, infelizmente o senhor Fulano não poderá comparecer no treinamento para o qual foi convocado. Claro que acho o treinamento importante, mas não é esta a questão, o Sr. Fulano está muito envolvido em um projeto e não pode se ausentar.
Enquanto você argumenta ao telefone, olha para a tela do seu micro e vê um e-mail chegar: ”Informo que a senhora Cicrana não poderá comparecer ao curso, porque está muito atarefada e não posso liberá-la para o treinamento. Conto com sua compreensão” etc.
7º dia: Campanha motivacional! Oba! Que delícia fazer uma campanha motivacional. Prêmios, cartazes, analisar os indicadores, comunicar, incentivar a participação e realizar coisas afins. É ótimo fazer uma campanha motivacional e observar a alegria que contagia toda a empresa.
8º dia: Você vai tomar um café e se depara com uma pessoa estranha. - Olá, muito prazer! Te conheço? (...) Então, eu comecei aqui ontem, cheguei para trabalhar com o Sr. Beltrano de Tal, muito prazer!.
Curioso! Como alguém entrou na empresa e não passou pelo RH? Como será que este profissional foi integrado?
9º dia: Oba! Chegou o dia do treinamento! Você, ansioso, entra em sala. Tanta preparação, tanto trabalho, afinal, mesmo com as desistências, você ainda tem quorum suficiente para manter o curso no ar.
- Chegou o primeiro, o segundo, que legal, o terceiro! E só! Cadê o resto?, você pergunta impressionado.
- O senhor não soube? Aconteceu um pico de produção e muitos não poderão vir – respondeu o auxiliar.
- Todos os demais?, questiona.
- Deixa eu ver a lista dos convocados. Esse sim, esse sim, esse não, esse está de férias. Ninguém avisou o senhor?, completa o ajudante.
10º dia: Seu Diretor o chama: - Sr. RH, gostamos muito da sua campanha motivacional, mas, teremos que reduzir os custos da empresa. Veja, a produção aumentou sim, mas foi porque o gestor mudou seu comportamento, porque o sol nasceu quadrado, mas certamente não por causa da campanha motivacional, que foi ‘bonitinha’, ‘simpática’, mas o senhor há de convir comigo que estas campanhas não costumam trazer resultados práticos, não é mesmo?”
11º dia: Redução de custos? Vamos começar pelo RH. Fim. Sua trajetória acabou.
Você recolhe suas coisas, sua CLT, seu dicionário. Realmente, o RH burocratiza a empresa, sem os treinamentos, a produtividade do pessoal seria maior, sem os parâmetros de contratação e de cargos e salários, o pessoal teria mais flexibilidade para aproveitar talentos. Fim da linha. No caminho para a rua, de posse de seus pertences, com o firme propósito de mudar de carreira, caminha o Sr. RH, até que uma pessoa o intercepta:

Meus parabéns, Flávia Garbo!
Sucesso sempre,
Aristides Faria
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