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Por: Aristides Faria
Pergunto-me
rotineiramente sobre os rumos do Brasil no setor de turismo, em especial, em
âmbito internacional. Minhas incertezas se devem, sobretudo, por eu não ser
operador nesse segmento.
No
ano de 2014 tive a oportunidade de viajar para outros países para ministrar
palestras em eventos científicos e essas experiências me motivaram a escrever
esse texto, que é a compilação de uma série de dados acerca do desempenho mercadológico
do Brasil no turismo com breve análise sobre os mesmos.
A atividade
turística é responsável pela transferência de divisas entre as nações e, conforme
dados do World Travel and Tourism Council
(WTTC), em termos globais, a contribuição do setor para a composição do produto
interno bruto (PIB) mundial foi de cerca de sete bilhões de dólares americanos
em 2013. Esse montante é composto por investimentos, pela cadeia de suprimentos
e impactos induzidos, indiretos do setor, o que representa 9,5% do total das
riquezas produzias no planeta. Para 2014 a projeção, ainda não consolidada
nesse momento, foi de um crescimento da ordem de 4,3% ou US$ 7,289 bilhões
(WTTC, 2014).
A
atividade turística gerou 100.894.000 de empregos diretos no mundo ou 3,4% do
total de global. Para 2014, o WTTC projeta crescimento de cerca de 2,2% nesse
índice. De acordo com a entidade, esse mercado de trabalho é composto por meios
de hospedagem, agências de viagens, restaurantes, companhias aéreas, outros
meios de transporte de passageiros, somando a ampla indústria do entretenimento
e do lazer, mas excluindo meios virtuais de comercialização de produtos e
serviços turísticos.
Para
a fundamentação de meus artigos sobre competitividade tenho revisado diversos documentos
publicados pelo Ministério do Turismo (MTur). Um deles é o “Estudo da demanda
turística internacional (2006-2012)”, elaborado pelo Departamento de Estudos e
Pesquisas da Secretaria Nacional de Políticas de Turismo (MTUR, 2013).
A
partir dos dados analisados verificou-se que, em 2012, 46,80% dos entrevistados
visitaram o país motivados por lazer, ante 25,30% que apontaram os negócios,
eventos e convenções como motivação. Os destinos mais procurados pelos turistas
motivados pelo lazer foram Rio de Janeiro (29,6%), Florianópolis (18,1%) e Foz
do Iguaçu (17,3%). Já os turistas de negócios, eventos e convenções,
demandaram: São Paulo (48,3%), Rio de Janeiro (23,9%) e Curitiba (4,4%).
Em
relação ao turismo de negócios, eventos e convenções foi possível observar a
ampla participação da cidade de São Paulo (48,3%). Alguns fatores são
essenciais para a construção dessa realidade ao longo do tempo.
Um
dado interessante diz respeito a nacionalidade dos turistas: os principais
países emissores dos visitantes que desembarcam na cidade de São Paulo por meio
do Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos foram, em 2012, Estados
Unidos (15,3%), seguido por Argentina (12,3%), Chile (5,6%) e Bolívia (5,2%).
Verifica-se
que entre os quatro primeiros países emissores de visitantes ao Brasil que
desembarcam no aeroporto internacional de São Paulo três destes têm o idioma
espanhol como idioma oficial.
Um
dado relevante refere-se à motivação para a viagem dos estrangeiros
entrevistados, que no caso específico da cidade de São Paulo, ao contrário da
média brasileira, aparece em primeiro lugar com 55,7% de participação. No caso,
a motivação de lazer corresponde a 13%.
O
segmento de “negócios e eventos” é representativo em relação aos demais para o
mercado paulista e, em especial, para o município de São Paulo. Conforme dados
da São Paulo Turismo (OBSERVATÓRIO DO TURISMO, 2013), entre os anos de 2011 e
2012, os aeroportos que servem a cidade de São Paulo registraram crescimento de
7,4% no volume total de passageiros (nacionais e internacionais). Dados do
poder público local, apresentados nesse relatório, traçam perspectivas de que
até 2020 o número de turistas deve chegar a 16,5 milhões.
Ao
longo do ano de 2012 foram realizadas 82 feiras na cidade, que atraíram 2,2
milhões de visitantes ao município. A prefeitura local criou o programa “São
Paulo: Fique mais um dia” para estimular a permanência no destino por mais
tempo que o exigido pelo evento, que, em média, foi de 7,4 dias em 2012 (MTUR,
2013).
Há,
ainda, outra contribuição que pode ser assinalada em relação ao turismo de
negócios e eventos, que é a distribuição dos eventos ao longo do ano. Em São
Paulo, conforme dados do Observatório do Turismo (2013, p. 150-160), entre
todos os eventos realizados na capital paulista, destacam-se trinta e seis mais
relevantes, que acontecem ao longo do ano, de acordo com o calendário oficial
de eventos do município. Juntos, apenas esses trinta e seis eventos, reúnem
mais de 7,5 milhões de participantes, entre residentes e visitantes nacionais e
internacionais.
Torna-se
relevante considerar nessa análise o relatório do Fórum Econômico Mundial sobre
a competitividade global do mercado de viagens e turismo. No ranking de 2013, o
Brasil ocupa a 51ª posição, devido a ligeira deterioração em alguns dos
indicadores macroeconômicos, dificuldade de acesso ao financiamento, bem como a
falta de progressos suficientes em alguns desafios determinam essa estabilidade
em relação a 2011, quando o país ocupava a 52ª posição.
Mais
precisamente, o funcionamento das instituições, as preocupações crescentes sobre
a eficiência governamental, a corrupção e baixa confiança nos políticos
persistem como uma fonte de incertezas. A falta de progressos na melhora da
infraestrutura geral e no sistema de educação formal, uma economia fechada e a
concorrência internacional rebaixam o índice de competitividade do Brasil em
termos globais (WEF, 2013).
Conforme
o relatório, entretanto, apesar dos desafios, o país ainda se beneficia de
vantagens importantes, especialmente do tamanho do mercado interno – que mantém
alta a demanda pela produção de bens duráveis – e o protagonismo regional do
país no campo comercial, com destaque para a excelência de inovação e em
atividades de alto valor agregado (aquelas ligadas a inovação tecnológica, por
exemplo). É pertinente citar um dado externo a esse relatório.
Ao
lado de Argentina e México, o Brasil é líder na solicitação de registros de
patentes intelectuais globais, conforme dados do World Intellectual Property Organization (WIPO). Por outro lado, no
contexto dos países componentes do “BRICS” (Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul), o desempenho brasileiro é similar aos países componentes do
grupo, com destaque apenas para a China.
A
partir desse panorama sobre o desempenho do Brasil no mercado de turismo
internacional torna-se possível inferir que a atividade turística, englobados
os diversos setores relacionados, consolidou-se nos últimos 20 ou 30 anos como
um dos mais importantes segmentos da economia internacional.
Especificamente
no caso do município de São Paulo, os negócios do turismo e o turismo de
negócios firmam-se ano a ano como vetores do processo de qualificação da mão de
obra local e intercâmbio cultural.
Referências
CENTERS FOR DISEASE CONTROL
AND PREVENTION (CDS). (2010). Overview of
Race and Hispanic Origin. Disponível
em: < http://www.census.gov/prod/cen2010/briefs/c2010br-02.pdf >.
Acesso em 27 de junho de 2014.
MINISTÉRIO
DO TURISMO (BRASIL). (2013). Anuário
Estatístico 2013: ano base 2012. Disponível em: < http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/dadosefatos/anuario/index.html
>. Acesso em: 03 de julho de 2014.
MINISTÉRIO
DO TURISMO (BRASIL). (2013). Estudo da demanda turística internacional
(2006-2012). Disponível em: < http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/export/sites/default/dadosefatos/demanda_turistica/internacional/download_internacional/Demanda_Turxstica_Internacional_-_Fichas_Sinteses_-_2006-2012.pdf
>. Acesso em 16 de março de 2015.
WORLD ECONOMIC FORUM (WEF). The travel & tourism competitiveness
report. Genebra (Suíça), 2013.
WORLD INTELLECTUAL PROPERTY
ORGANIZATION (WIPO). World Intellectual
Property Indicators. Genebra (Suíça), 2013.
WORLD TRAVEL & TOURISM
COUNCIL (WTTC). Travel & Tourism
economic impact. Londres (Inglaterra), 2014.
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