Juros reais no menor patamar da história, baixo nível de desemprego, aumento da renda real, desempenho da economia brasileira superior ao das economias de países desenvolvidos. Apesar desse cenário, a bolsa brasileira ainda patina. Quais razões impedem o seu pleno desenvolvimento e travam sua rentabilidade? Como atrair novos investidores?
Responda rápido. Qual índice tem melhor desempenho em 2012: o Ibovespa ou o da bolsa francesa, o CAC 40? Tomando por base o cenário de crise na Europa, muitos apostariam no índice brasileiro. Errariam. Até 27/08, o CAC subia 9,2% e o Ibovespa em euros caía 2,0%.
A composição do Ibovespa, muito concentrada em setores de commodities e em bancos, explica esse desempenho. As ações de Petrobras (PETR4 e PETR3) e Vale (VALE5 e VALE3) representam quase 25% do índice. A crise na Europa, o baixo crescimento americano e a desaceleração da China prejudicam o setor de commodities. A incerteza sobre a demanda desses produtos tende a deprimir o preço, prejudicando as ações do setor. Outro setor de relevo no Ibovespa é o bancário. Itaú Unibanco (ITUB4 e ITUB3), sua controladora Itaúsa (ITSA4) e Bradesco (BBDC4 e BBDC3) representam 13% do Ibovespa. Apesar de os bancos brasileiros terem pouca exposição ao mercado europeu, a crise bancária na região contamina os bancos brasileiros. Como o mercado brasileiro apresenta maior liquidez, as ações dos bancos locais sofrem mais, apresentando desconto significativo em relação aos seus competidores latinos. Escrevi sobre o tema no post “Os bancos brasileiros não são mais rentáveis?”, de 30/07/12.
Assim, o cenário externo afeta diretamente o Ibovespa. Reflexo disso, apesar da economia brasileira estar em melhor forma do que a economia americana, o Ibovespa apresenta maior volatilidade do que o S&P500. (Veja post “O Ibovespa é mais arriscado do que o S&P500. Até quando?”, de 17/02/12).
Para resolver essa situação, a bolsa necessita de mais opções de companhias com atividades voltadas para o mercado doméstico. Após 2004, diversas empresas acessaram a bolsa brasileira aumentando o universo com essa característica. Contudo, poucas com liquidez. Assim a demanda por esse tipo de companhia direcionou-se para as poucas ações líquidas - a de bebidas Ambev (AMBV4), a de aluguéis de carros Localiza (RENT3), a de fumo Souza Cruz (CRUZ3) e a distribuidora de gás e derivados de petróleo Ultrapar (UGPA3), por exemplo. Esse movimento elevou o múltiplo das ações dessas companhias a ponto de o mercado discutir atualmente se esses papéis não se encontram esticados.
Após 2004, investidores estrangeiros invadiram a bolsa brasileira. Inicialmente os fundos dedicados à América Latina (os “Latam funds”). Posteriormente, fundos com foco em ações de emergentes globais, os fundos GEM (“global emerging market”), passaram a investir nas companhias brasileiras.
Contudo, a composição atual da bolsa brasileira afasta outros potenciais investidores estrangeiros. A alocação de ativos no mercado acionário brasileiro não contribui para aumentar a diversificação da carteira do investidor em decorrência da grande correlação do Ibovespa com a condição macroeconômica internacional.
Assim, para a bolsa brasileira ganhar atratividade e reduzir sua volatilidade é necessário que ações de companhias com novas teses de investimento acessem o mercado. E, de preferência, com liquidez suficiente para atrair qualquer tipo de investidor estrangeiro.
Para o pleno desenvolvimento da bolsa brasileira, o ingresso do investidor pessoa física também se faz necessário. Esse investidor, em regra, não possui problemas de investir em ações menos líquidas. Logo tende a ser um importante investidor das ações de menor capitalização de mercado (“small caps”). A atual redução dos juros reais tende a atrair novos investidores. Mas a alteração da política monetária precisa ser estrutural e não decorrente apenas do momento atual. Será necessário mais um ou dois anos para termos certeza se esse novo cenário de juros baixos é permanente. Por enquanto, apenas 0,6% dos contribuintes que entregaram declaração do imposto de renda em 2012 são aplicadores regulares de renda variável.
Outro tipo de investidor que tende a buscar a bolsa em busca de maior rentabilidade são os fundos de pensão. De acordo com a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), investimentos em ações representavam 30,6% do patrimônio dos fundos de pensão em março/12, percentual muito similar ao de dezembro/04, de 30,1%. Tal como para o investidor pessoa física, a queda dos juros precisa ser consistente para trazer os fundos de pensão para a bolsa.
Em resumo, uma composição mais diversificada da bolsa e a manutenção dos juros reais baixos são alguns dos aspectos vitais para atrair novos investidores para o nosso mercado acionário.
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