Por: Sérgio Bueno, de Porto Alegre - Valor Econômico - 18/12/2008
Seis anos seguidos incluída como destaque, os últimos cinco como campeã de uma das seis categorias - a das empresas de 1.001 a 2.000 funcionários -, a Grazziotin foi escolhida a Melhor Empresa na Gestão de Pessoas de 2008. A eleição é resultado de pesquisa realizada pela Hewitt Associates, em parceria com o Valor, publicada na revista "Valor Carreira". A rede varejista gaúcha é a número um entre as campeãs das seis categorias e com elas foi premiada em cerimônia realizada ontem na sede do jornal, em São Paulo.
A Grazziotin conseguiu aliar o engajamento dos cerca de 2 mil funcionários a bons resultados financeiros e está fortalecida para atravessar o esperado período de instabilidade, conseqüência da desaceleração da economia. Entre os pontos fortes na gestão de pessoas, reconhecidos pelos funcionários - com reflexo no engajamento - estão os projetos de responsabilidade social. Um deles é o Empresa na Comunidade, pelo qual recebe visitas de escolas e universidades para demonstrações práticas sobre o mercado de trabalho. No Escola de Fábrica, prepara alunos carentes para o mercado de trabalho (o treinamento é feito pelos funcionários).
De acordo com a pesquisa, a Grazziotin destaca-se ainda no treinamento e desenvolvimento dos funcionários e nas oportunidades de carreira oferecidas - um dos pontos altos é a valorização da prata da casa. Cargos de liderança são ocupados sempre por pessoas que começaram na empresa. É o caso dos 20 gerentes regionais e seis dos sete diretores. Essa eficiência na gestão de pessoas dá à rede varejista condições de atrair e segurar os consumidores, que serão muito mais "disputados" em 2009, segundo o presidente Gilson Grazziotin.
Com operações nos segmentos de vestuário, calçados, cama, mesa e banho, bazar, decoração, utilidades domésticas e camping, a rede vende produtos populares em 260 lojas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Tem matriz na cidade gaúcha de Passo Fundo, a quase 300 quilômetros de Porto Alegre e opera com as bandeiras Grazziotin, Tottal, PorMenos e Franco Giorgi . A maior parte dos pontos de venda está concentrada no interior dos três Estados. Praticamente todos eles ficam fora de shopping centers.
Nos dois últimos anos, desde o fim de 2006, a empresa abriu 40 novas lojas. Para 2009, o plano é continuar crescendo, mas as previsões ainda não foram fechadas e o ritmo de inaugurações de novos pontos de venda será definido em março. "Vão surgir oportunidades, porque com o arrefecimento do mercado os aluguéis dos imóveis deverão cair", acredita o empresário.
Grazziotin confia em que os segmentos de vestuário e utilidades domésticas, que operam com tíquetes médios mais baixos, serão menos afetados pela crise do que setores como o automobilístico e o da construção civil. Mesmo assim, o mercado vai sentir o baque, especialmente se houver aumento do desemprego. As empresas de varejo vão precisar de muita "criatividade" para manter suas posições, de acordo com o empresário.
"Aí será fundamental o esforço dos funcionários para atrair os clientes para dentro das lojas", afirma. "Vamos precisar de muita energia positiva para transformar as dificuldades em soluções e fazer com que os pontos de venda sejam 260 unidades geradoras de lucros em 2009". O quadro de gerentes é o pelotão de frente nessa batalha e, de acordo com o presidente, a empresa está com o quadro de empregados "enxuto" e não pretende fazer cortes por conta da crise.
Conforme Grazziotin, a qualidade do atendimento, assim como os contatos individuais por carta e telefone fazem uma diferença importante na briga pelos consumidores. "Cada loja chega a fazer 500 ligações por dia para clientes cadastrados em períodos de campanha", diz o presidente. Dona de uma financeira própria, a rede tem uma base de 1,5 milhão de cartões das quatro bandeiras, que serão unificados em 2009 sob a marca Grazziotin.
A estratégia da empresa para enfrentar a crise inclui ainda negociações com fornecedores para melhorar a qualidade dos produtos vendidos sem aumento de preços. "Esse tem sido nosso esforço nos últimos dois a três anos", explica o presidente. De acordo com ele, nesse período o número de fornecedores foi reduzido à metade e a quantidade de itens comercializados também caiu para permitir compras em escala maior, com economia de custos e ganhos de logística.
O resultado vem aparecendo nos números. Desde 2005, a Grazziotin apresenta altas ininterruptas na receita líquida e no lucro, que até 2007 cresceram de R$ 121,2 milhões para R$ 174,1 milhões e de R$10,5 milhões para R$23,7 milhões, respectivamente. No acumulado até setembro de 2008 as vendas líquidas subiram mais 14,2% sobre igual período do ano passado, para R$133 milhões, enquanto o lucro líquido avançou 42%, para R$21,1 milhões.
Segundo Grazziotin, os próximos desafios incluem o processo de sucessão na varejista. Aos 64 anos, ele trabalha há 42 na empresa e assumiu a presidência após o falecimento do pai, Tranqüilo Grazziotin, há dois anos. Agora, está preparando a filha Renata, de 39 anos, para sucedê-lo, mas os prazos ainda não estão definidos. Quando o processo for concluído, o empresário pretende permanecer à frente do conselho de administração. O filho Marcus, de 33 anos, assumiu em abril a diretoria comercial.
O pai do atual presidente fundou a Grazziotin em maio de 1950 junto com os irmãos Plínio, Idalino e João. Com um empréstimo do pai, Valentin, neto de imigrantes italianos que chegaram ao Brasil em 1879, os quatro abriram um atacado que vendia desde cereais, sal, açúcar, cigarros e alimentos enlatados até armas, munições, ferragens e utilidades domésticas.
Em 1952, os negócios foram ampliados com exportações de cereais, lã de ovelha e importação de soda cáustica, armas e munições. Mas foi no fim dos anos 60 que a empresa começou a adquirir as feições atuais, com a venda de fogões, geladeiras, televisores e máquinas de costura, ferragens, materiais de construção, móveis e bazar. Em 1971, abriu o capital e nos anos 80 ampliou as operações também para moda e vestuário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário