Por: Eugen Emil Pfister Júnior
Os gurus da administração fazem o possível e o impossível para ocultar o lado irracional das relações entre líderes e liderados. Admitir o fato complicaria a racionalidade mecânica das suas teorias sobre liderança, negociação, motivação e congêneres, sempre pautadas em promessas do tipo “faça isso e você conseguirá aquilo”.
Nas inúmeras e criativas metáforas sobre organizações que cunharam, nunca lhes ocorreu a possibilidade das organizações terem seus dias de Jurassic Park. Vejamos. Segundo os paleontólogos, os dinossauros desaparecerem da face da Terra há 64-66 milhões de anos. Pairam controvérsias e dúvidas sobre as causas da extinção massiva, mas como ninguém até o presente momento reportou a alguma autoridade ter visto um Alossauro Polar andando pela Avenida Paulista, assume-se que os bichanos estão “mortinhos da Silva”.
Bom, essa história de ninguém viu, vale mais para cientistas e pessoas sensatas, pois há quem suspeite que eles e o Elvis ainda vivam. Por favor, contenham a vontade de rir ou zombar, pois, os crédulos têm razões que a própria razão desconhece. Tudo depende de como conceituamos o que é “viver” ou “sobreviver”. Elvis continua um ícone e seus discos vendem milhões até os dias atuais. “Tá bom! Essa é fácil” - dirão os céticos: “duro vai ser explicar a história dos dinossauros”. Espero não desapontar ninguém, mas defender a tese vai ser uma barbada.
Sucede que o grande lagarto sobrevive onde menos esperamos encontrá-lo: em nós, mais especificamente em nossos cérebros, comportamentos e sentimentos. “Imagine o cérebro humano como um sanduíche evolutivo, um córtex (centro do pensamento e da lógica) empilhado no topo de um cérebro de dinossauros (...) com uma camada a que chamamos de sistema límbico no meio" – citado no livro Gerentes Inteligentes, Reações Irracionais - de Albert J. Bernstein & Sydney C. Rozen, 1991. Essa camada surgiu a partir da emergência dos mamíferos mais antigos com a função de contribuir para a sobrevivência da espécie.
Sim, senhores, somos dinossauros de terno e gravata, diplomados, com CPF, RG, cartão de crédito e outras quinquilharias que acreditamos provar nosso progresso. Mas o Dino está escondido. Na dúvida, tente ultrapassar um motorista que trafega na pista da esquerda a 40 km por hora, diga para o seu chefe que ele é incompetente, questione a moral do seu subordinado, sonegue-lhe os direitos ou méritos e você viverá fortes emoções.
A questão é que fomos socializados a duras penas e, apesar dos séculos de esforço civilizatório, alguns preferem ir direto ao ponto sobre “quem manda neste pedaço”. Eu, por exemplo, sou assim quando o assunto é o controle da TV.
A lei da selva está claramente presente na conduta dos chefes autoritários, dos subordinados rebeldes, dos “manda-chuvas” da vida e dos flanelinhas. A técnica é intimidar o interlocutor física, psicológica ou moralmente e assim impor a própria vontade, interesses, caprichos.
Normalmente, quando os intimidados decidem brincar de Jurassic Park: (a) contra atacam o oponente com igual ou superior violência; (b) enfiam o rabo embaixo da perna e fogem da raia; ou (c) ficam medrosos, paralisados, sem saber o que fazer diante da truculência de que são vítimas. Atacar, fugir ou ficar imóvel é o modus operandi clássico dos “dinos de antanho” e de hoje.
O problema é que as estratégias ofensivas, defensivas ou escapistas não contribuem para atingir as metas ou satisfazer os interesses pessoais, grupais, organizacionais. Ao contrário, No lugar de resolver problemas e conflitos, elas jogam gasolina na fogueira.
Evolução não significa, necessariamente, superar estágios primitivos prévios. Acreditamos na hereditariedade, na transmissão genética das características biológicas, bem como no inconsciente coletivo descrito por Carl Gustav Jung como uma espécie de memória atávica da humanidade. Só não enxergamos que diferentes estágios evolutivos sobrevivem e se manifestam até hoje.
Os jogos de poder numa organização são, na essência, primitivos, ainda que os jogadores se esforcem para parecerem nobres, civilizados, altruístas. Os jogos mais populares são:
* Eu sou o Bwana - brincadeira para reafirmar quem está no comando.
* Você sabe com quem está falando? - brincadeira para reafirmar quem está no comando.
* Manda quem pode, obedece quem tem juízo - jogo do recado preventivo.
* É nadar ou morrer - velha lei da selva.
* Cenoura ou chicote? - a tradicional estratégia de manipular os baixos apetites.
* Siga o chefe - ou seja, não questione, obedeça!
* Agora te peguei - superiores que adoram flagrar os subordinados cometendo erros.
* Sexo e vantagens profissionais: assédio moral e sexual.
Portanto, fique atento e esperto. Tempere com doses cavalares de realismo a visão cor-de-rosa dos gurus organizacionais. Um dos deveres de um gerente é reconhecer e lidar com a realidade; depois, pode transformá-la. Procure inspiração no poeta e dramaturgo Terêncio (82 a.C. – 35 a.C), que disse: “nada do que é humano me é estranho”.
Antes de tentar domar os outros, dome a si mesmo, gerenciando os próprios impulsos jurássicos. Aliás, prometo aos amigos e conhecidos que me esforçarei para seguir o próprio conselho.
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