..:: Por: Adriana Fonseca | Valor Online
O desembarque de executivos estrangeiros no Brasil não para. Neste ano, até setembro, já foram concedidas 1.276 autorizações para profissionais que passaram a ocupar cargos com poder de gestão em empresas no país, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego.
Depois das multinacionais e das grandes companhias brasileiras, agora são as startups - pequenas empresas em estágio inicial e com grande potencial de crescimento - que vêm conseguindo atrair e completar seus quadros com forasteiros.
O americano Luke Cohler é um exemplo. Há pouco mais de dois anos ele chegou ao Brasil transferido pela consultoria global Bain & Company, ocupando o cargo de consultor associado sênior.
Cohler já dominava o português - uma das razões de sua transferência -, assim como o francês e o espanhol, e tinha grande interesse pelo Brasil desde a adolescência. Durante sua graduação na Universidade de Princeton, fez um estágio no Rio de Janeiro e seu trabalho de conclusão de curso teve como tema o planejamento urbano de Curitiba. Diante de tanto conhecimento sobre o país, ele se perguntou: "Não faria sentido ter uma experiência profissional no Brasil, que está em um ótimo momento?"
Logo após a mudança de Nova York para São Paulo, conheceu por meio de colegas em comum um dos fundadores do site de compras coletivas Peixe Urbano, Julio Vasconcellos. "Quando fui transferido pela Bain, já estava procurando algo para fazer na minha carreira depois da consultoria", conta o executivo, hoje com 27 anos. Passados os seis meses de seu contrato de expatriação, ele assumiu a diretoria de categorias, campanhas e comunicação do Peixe Urbano, no Rio de Janeiro.
O que atraiu Cohler a assumir a nova função não foi exatamente o salário. "Gosto da agilidade das startups e tenho dado prioridade a experiências profissionais que sejam enriquecedoras", diz o executivo, que afirma ter avançado uma década em sua carreira nesses dois anos de Peixe Urbano. Para ele, o ambiente da startup, que requer soluções para crises novas quase todos os dias, é altamente motivador. Cohler reconhece, contudo, a importância de sua experiência anterior. "Atuar em uma grande consultoria foi fundamental para o meu desenvolvimento. Mas gosto de colocar a mão na massa e de ver as coisas acontecerem. Consigo encontrar essa agilidade em uma empresa menor."
Sandra Finardi, diretora da DM Executivos, do Grupo DMRH, especializado em recrutamento e seleção, diz que o executivo que atua em uma companhia iniciante tem um perfil diferente daquele que prefere uma grande organização. Na startup, por exemplo, é preciso estar na linha de frente e ser estratégico ao mesmo tempo. "A estrutura é mais enxuta e não há secretárias ou outros funcionários para dar suporte. São ambientes bastante distintos", ressalta.
Sobre a remuneração, Sandra afirma que no longo prazo um posto em uma startup pode até ser mais vantajoso que um cargo em uma multinacional. Isso porque existem participações nos ganhos da empresa, que normalmente crescem a taxas bem mais elevadas. Nas empresas menores, no entanto, o que mais atrai os profissionais, segundo Sandra, é o desafio de poder construir algo com a cara deles. "O nível de autonomia é diferenciado e é preciso ter um olhar muito empreendedor", afirma.
Essa autonomia, a rapidez do dia a dia e a possibilidade de ter contato com o presidente e o diretor financeiro da empresa logo no começo da carreira foram os motivos que levaram o português Ricardo Parro a preferir as startups desde que entrou no mercado de trabalho. "Queria ter uma visão ampla da área de tecnologia e as empresas menores permitem isso", diz ele, que hoje é diretor de tecnologia da Printi, uma plataforma que oferece serviços gráficos on-line sediada em São Paulo. A empresa foi lançada em agosto deste ano e recebeu investimento de R$ 2,5 milhões da Greenoaks Capital e de investidores anjo.
Parro conta que havia trabalhado no desenvolvimento de outra startup em Londres, a Wonga, da área de finanças, considerada uma das companhias de crescimento mais rápido em tecnologia no Reino Unido. O executivo português diz que os dois sócios da Printi, Florian Hagenbuch e Mate Pencz, estavam precisando de alguém da área de tecnologia para se juntar à empresa, que estava começando. "Buscaram na internet, viram a minha experiência e entraram em contato."
Ele diz que nunca tinha pensado em vir ao Brasil, mas gostou do projeto e aceitou o convite para atuar como CTO (Chief Technology Officer) da Printi. "O lugar é importante, mas os projetos são mais", diz o português. "Mas estou gostando daqui", afirma, referindo-se ao Brasil. Hoje, a Printi tem cerca de 15 funcionários. Em abril, quando Parro começou, eram só três pessoas - ele e os dois sócios. "Como a equipe de uma startup é pequena, os negócios andam rápido e dá para aprender muito mais."
A agilidade na gestão é um fator que também atraiu o franco-inglês Christopher Marchak. Ele ingressou na brasileira Scup, especializada em monitoramento de mídias sociais, há menos de um ano. Ocupava, no início, um cargo júnior na área de expansão da empresa. Hoje, é um dos líderes da implementação da companhia nos Estados Unidos. "A startup dá mais responsabilidade aos profissionais e oferece uma camada de atuação maior."
O interesse de Marchak pelo Brasil começou quando ele cursava o mestrado em administração internacional da Global Alliance in Management Education (Cems), uma aliança global de escolas de negócios. Durante o programa, precisava fazer um intercâmbio em outro país e escolheu o Brasil. "Além da cultura e do clima, pesou o fato de o país estar crescendo e ter muitas oportunidades", diz Marchak. Aqui, fez um estágio na Scup. "A empresa precisava de alguém com experiência internacional e me fizeram uma proposta de trabalho quando terminei o curso", conta.
Marchak diz que precisou se adaptar à nossa cultura para lidar melhor com os novos colegas no trabalho. Ele percebeu que, no Brasil, ser muito direto pode ofender as pessoas. "É preciso falar do jeito certo ou isso interfere no trabalho. É o oposto do que acontece em Nova York, por exemplo, onde tenho que ser objetivo", diz.
Sandra, da DM Executivos, diz que a sensação experimentada por Marchak é comum entre profissionais estrangeiros que vêm trabalhar no Brasil. "Os executivos de fora precisam ter um olhar forte para a gestão de pessoas", diz. De acordo com ela, para alcançar metas no país, o líder precisa primeiro conquistar a equipe. "Muitas vezes, o profissional estrangeiro chega focado no resultado e não desenvolve uma boa relação no trabalho com a equipe, que envolve também o lado pessoal. Isso pode colocar todo o projeto em risco", alerta.
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