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12.06.2012

Gestor deve ter perfil multitarefa e ser flexível

..:: Por: Maria Carolina Nomura | Valor Online

Com a inauguração de um número recorde de centros de compras em 2013 em todo o Brasil, de acordo com a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), consultores na área de recursos humanos são unânimes em afirmar que a carreira de gestor de shopping está em alta e oferece bons salários. Mas, a atividade exige o perfil de alguém que seja multitarefas e com jogo de cintura não só para lidar com os diversos públicos que o shopping agrega como lojistas, investidores e clientes, além de ter flexibilidade para se adaptar a diferentes realidades.

Grande parte da expansão do mercado de shopping se dá fora dos grandes centros e capitais. Cabe ao profissional do setor avaliar se tal mudança geográfica é compatível com seu momento de vida e carreira, avaliam Zuca Palladino, gerente das divisões de marketing e varejo e Danilo Alvarenga, consultor sênior da divisão de varejo da consultoria Michael Page.

"Existem muitas demandas para cidades de interior dos Estados de São Paulo e Minas Gerais e principalmente contratações para as regiões do Centro-Oeste e Norte. Isso faz com que as oportunidades nas capitais sejam concorridas", acrescenta Daniela Ribeiro, gerente sênior das divisões de vendas & marketing e engenharia da consultoria Robert Half. Assim, alguns profissionais optam por passar um período longe dos grandes centros para adquirir experiência e retornam quando há uma vaga nessas capitais, explica. "As oportunidades de trabalho brotam também do investimento de empresas tradicionais de real estate, iniciando operações de gestão de shoppings centers de terceiros", diz.

Um reflexo do crescimento pode ser medido pelo surgimento de cursos de especialização na área em faculdades de renome. Para Ana Paula Cardoso, coordenadora da área de educação executiva do Insper, que tem cursos de gestão de shopping center desde 2010 em parceria com a Abrasce e formou cerca de 90 alunos, os programas de ensino proporcionam uma visão estratégica do negócio. "O mercado de shopping cresceu muito nos últimos anos, impulsionado pelo crédito fácil e ascensão das classes B e C. Além disso, o brasileiro tem uma capacidade empreendedora grande de atuar nessa área. Mas, é importante saber lidar com investidores e gerenciar os recursos humanos de forma estratégica."

Outras instituições como a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) também ministram aulas nesse sentido. "Percebemos uma forte mudança de comportamento no setor, uma vez que, anteriormente, a gestão desses grandes empreendimentos era familiar. Hoje, requer-se um profissional que tenha não só experiência em varejo, mas saiba se relacionar com diversos públicos como lojistas, investidores e tenha domínio de outras disciplinas com finanças, marketing e gerenciamento de crises", afirma Ricardo Pastore, coordenador do núcleo de estudos e negócios de varejo da ESPM, que tem um programa especial de marketing para esse público há cinco anos e formou mais de 300 alunos.

Pastore diz que como os cursos são customizados, um tema recorrente nos últimos tempos foi a gestão de crises, inspirado pelas situações peculiares vividas por alguns empreendimentos. O Shopping JK Iguatemi, por exemplo, teve sua inauguração adiada por mais de dois meses por pendências com a Prefeitura de São Paulo neste ano e o Center Norte amargurou dois dias de interdição por conta da suspeita de vazamento de gás e risco de explosão, em 2011. Outros shoppings como o Pátio Paulista e o Higienópolis também tiveram suas licenças cassadas pelo Ministério Público por apresentarem documentação irregular, mas funcionam normalmente por liminar.

"Nesses casos, o superintendente precisa estabelecer um plano de ação rápido em conjunto com a assessoria de imprensa e outros órgãos internos como o próprio marketing e o departamento jurídico para minimizar os impactos que essas ocorrências podem ter na imagem do shopping", diz Pastore.

Além disso, saber negociar com os órgãos públicos é essencial para um gestor, segundo Carlos Eduardo de Souza Cardoso, superintendente do Shopping Costa Dourada, em Recife (PE). "O perfil desses grandes empreendimentos está mudando. Atualmente, os complexos são multifuncionais, com hotelaria e até prédios residenciais. Por isso, é muito importante saber conversar, ter conhecimentos jurídicos e de mercado", diz Cardoso que é aluno do curso de pós-graduação em gestão de shopping do Insper em parceria com a Abrasce.

Colecionar habilidades como ter grande capacidade de análise, facilidade com planilhas e números para os cálculos do valor do condomínio, aluguel, controles de despesas do shopping, controle do fluxo de pessoas, lucratividade das lojas, retorno das campanhas de marketing nos picos de mercado são também outros diferenciais que o profissional que atua nesse segmento deve ter, segundo os especialistas da Robert Half e Michael Page.

"Outra característica importante é o profissional ter o olhar de dono junto com a disponibilidade de ser mão na massa. Esse perfil de pessoa não pode ser alguém que fique no escritório. Tem que rodar o shopping inteiro buscando melhorias e ideias, não deixar nada para depois e na falta de mão de obra, ter a flexibilidade de topar qualquer tipo de tarefa", ressalta Daniela Ribeiro, da Robert Half.

Além dos desafios da profissão em si, o grande atrativo para lidar com pressões de todos os lados - governos, lojistas, investidores e clientes - é a remuneração. De acordo com a Robert Half, o gestor de shopping ou superintendente de operações recebe entre R$ 15 mil (para um profissional com até cinco anos de experiência) a R$ 25 mil (para profissionais com dez anos de experiência). Segundo a Michael Page, o diretor comercial de grandes empreendimentos no interior de São Paulo pode ganhar entre R$ 20 mil e R$ 30 mil e também na faixa dos R$ 30 mil em Minas Gerais e regiões do Centro-Oeste e Nordeste.

"Para cidades como São Paulo ou Rio de Janeiro, onde os pré-requisitos são maiores, existem profissionais ganhando algo em torno de R$ 30 mil, se os mesmos forem formados em engenharia ou direito e tiverem inglês fluente. O idioma inglês tem sido um requisito mandatório para empreendimentos AAA devido aos grandes grupos varejistas e butiques virem com diretorias estrangeiras. Em cidades menores, o idioma deixa de ser um diferencial e a disponibilidade de mudanças de cidades com a família e uma pós-graduação contam mais para a contratação desse profissional", diz Daniela.

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