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9.12.2013

Bem-estar de brasileiros avança menos, aponta índice de banco

..:: Por: Arícia Martins | Valor Online

A estabilização da economia, a redução da desigualdade e o avanço de políticas sociais levaram a aumento significativo do bem-estar da população brasileira ao longo da última década, mas a melhoria das condições de vida perdeu ímpeto a partir de 2008, desaceleração que ficou mais forte nos últimos dois anos. A conclusão é da equipe econômica do Itaú Unibanco, que divulga, desde 2012, o Índice Itaú de Bem-Estar Social. Na edição deste ano, obtida pelo Valor, o banco calcula que o indicador subiu de 0,90 ponto em 2011 para 0,92 ponto em 2012, numa escala que vai de 0 a 1.

Para medir o ganho de satisfação da sociedade, a instituição usa três subindicadores, com peso igual na composição do bem-estar: condições humanas, condições econômicas e desigualdade social. O primeiro subíndice foi o único a sofrer alterações de metodologia em relação à primeira divulgação, ao incorporar, além de saúde, educação e segurança, o item meio ambiente. O indicador de condições econômicas tem como parâmetro dados de consumo e emprego, enquanto o componente de desigualdade social é uma medida agregada dos índices de Gini e Theil, ainda não divulgados para 2012.

Com base em informações econômicas e estatísticas sociais já conhecidas para o ano passado, o economista Caio Megale, que coordena o índice do Itaú, estima que houve crescimento, mas bem menor do que nos anos anteriores. A alta de 0,018 em relação a 2011, ficou muito aquém da expansão média de 0,136 registrada no período de 2003 a 2007 e, também, abaixo do avanço médio de 0,056 verificado nos anos mais recentes, de 2008 a 2011, quando a crise financeira mundial elevou as incertezas. Agora, a economia global dá sinais de reação, mas essa trajetória ainda é lenta, diz Megale.

No campo das condições econômicas da população, ele destaca que, a despeito do crescimento de apenas 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, a taxa de desemprego permaneceu em queda no período, ao recuar para 5,5% na média anual, ao passo que o consumo se manteve aquecido. Por outro lado, a piora da inflação, que encerrou o ano passado com alta de 5,84%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi um fator negativo, que impediu melhora mais significativa desse subindicador.

"Além do efeito direto de corroer a renda, a inflação mais alta dá trabalho às pessoas", diz o economista. "Quando os preços variam muito, os consumidores precisam pesquisar mais e se programar melhor". Os maiores saltos anuais do índice de bem-estar, nota Megale, ocorreram entre 1993 e 1996, período em que o fim da hiperinflação gerou importante alta do consumo e da distribuição de renda.

Nas condições humanas, o economista pondera que poucos números são conhecidos para o ano passado, mas o aumento da taxa de homicídios, para 21,02 por 100 mil habitantes, sugere uma piora no quesito segurança. Já as estatísticas de educação e saúde que compõem o subindicador - escolaridade, expectativa de vida e mortalidade infantil, entre outros -, continuaram em ascensão em 2011, embora em ritmo mais fraco que o verificado em anos anteriores, diz Megale. A Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2012, que contém esses dados, ainda não foi divulgada.

Os economistas do banco avalia que a alta mais lenta do bem-estar da sociedade brasileira no período recente pode estar por trás das manifestações que eclodiram em junho. Motivados inicialmente pelo reajuste das passagens de transporte coletivo, os protestos ganharam pauta bem mais ampla de reivindicações, com questionamentos sobre a qualidade da saúde, educação e segurança públicas.

Apesar da melhora contínua das condições de vida, Megale aponta que o nível de bem-estar no Brasil ainda é menor do que em outros países da América Latina, como o Chile, onde a taxa de homicídios por 100 mil habitantes é de apenas 3,16 e a população tem, em média, 10,17 anos de estudo - no Brasil, são 7,55 anos.

Para Megale, o desempenho das condições humanas precisa ser o principal motor para o crescimento do bem-estar, assim como a continuidade da diminuição da desigualdade de renda, já que, do lado das condições econômicas, a taxa de desemprego não tem mais espaço para quedas acentuadas e o processo de inclusão de novos consumidores, por meio da expansão da classe média, dá sinais de esgotamento.

Nesse cenário, Megale acredita que o setor privado deva dar atenção a ganhos maiores de produtividade, com investimentos em infraestrutura e em capital humano, ao passo que o governo deve aprimorar as políticas públicas voltadas à saúde, educação e segurança.

Mesmo com ajuda menor do Bolsa Família, que está próximo da universalização, o economista avalia que o subindicador de desigualdade ainda tem como vetor de aceleração nos próximos anos o avanço do agronegócio e os eventos esportivos. Esses dois fatores, diz, podem levar mais dinamismo às economias do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

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