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4.26.2010

Dicas Corporativas: Polindo lentes e despertando consciências

Por: Roberto Venosa, é presidente do IDORT/SP - ABRH-SP

Este texto pretende fazer algo que reputo desde já bastante ambicioso. Tecer um paralelo entre dois autores que impactaram o mundo com o que escreveram: Baruch Spinoza, filósofo holandês, e Pierre Bourdieu, ilustre sociólogo, antropólogo e filósofo francês. Projeto ambicioso, seja por minhas próprias limitações, seja pela exiguidade de espaço aqui disponível.

Spinoza, alcunhado de filósofo dos filósofos, ganhou a vida polindo lentes e é interessante que ninguém tenha feito, pelo menos até onde vai meu conhecimento, a analogia entre este polir lentes e o ‘enxergar melhor’ que ele proporcionou à sociedade com suas teorias. Bourdieu, no início rejeitado pelo establishment da sociologia francesa, renovou a análise sociológica estabelecendo um duplo compromisso: rejeitar a interpretação inocente derivada do senso comum e observar as múltiplas manifestações praticadas no cotidiano remetendo-as a um campo de possibilidades.
Ambos tiveram que lutar contra a rejeição que experimentaram, cada um a sua maneira. A rejeição a Spinoza, ainda que não o tenha impedido de continuar a escrever, foi mais violenta. Judeu marrano, nascido em Portugal e tendo vivido na Holanda, foi expulso não só da sinagoga, bem como declarado um herege pela comunidade judaica holandesa. Bourdieu enfrentou obstáculos para se tornar diretor de Estudos na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, em Paris, mas teve a sua legitimidade amplamente aceita ainda em vida. Não ocorreu o mesmo com Spinoza.
Com sua proposta de que Deus é a Natureza (Deus Sive Natura), Spinoza desenvolveu uma Ética e formulou os pressupostos da conduta humana voltada para o afeto, a relação humana e a busca do bem-estar. Tudo contrário ao pensamento dominante, à sua época, de um Deus abstrato e punitivo. Bourdieu certamente leu, absorveu e transformou em uma teoria da prática muito do que Spinoza escreveu e, ao mesmo tempo, demonstrou uma leitura parabólica da realidade.

Há que se registrar o atual refluxo moderno a Spinoza e a perpetuação de Bourdieu nos escritos dos que o acompanharam em vida. O rigor de ambos incomodou muita gente. Entretanto, já escreveu Oscar Wilde: para não ter inimigos somente é necessário ser medíocre.

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