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3.23.2009

Quando a relação azeda...

Por: Michelle VeronesePortal Administradores

José não fala com João, que brigou com Maria, que não aceita ordens de Sofia, que espalha fofocas pela empresa inteira... A famosa Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade, poderia sair exatamente assim – às avessas e sem nenhuma poesia - se inspirada em alguns ambientes empresarias. E, acredite, não estamos exagerando. “Em certos lugares, as relações interpessoais são tão complicadas que quase todo mundo, mesmo sem saber, acaba contribuindo para piorar o quadro”, conta Rafael Chiuzi, coach executivo e professor de psicologia organizacional e do trabalho da Universidade Metodista de São Paulo. Mas, calma lá!, porque ainda é possível salvar esse relacionamento.

O primeiro passo é entender o que está acontecendo. Para isso, basta abrir os olhos e ouvidos, afinal, os sintomas da desarmonia são pra lá de evidentes. Quando uma equipe perdeu a sintonia ou dois colegas não se bicam, a comunicação, por exemplo, é logo afetada. Os diálogos são frios, secos e frequentemente levam a mal-entendidos. Para piorar, o estresse é constante, sobra mal-humor e falta paciência. “É comum as pessoas demonstrarem uma irritação generalizada, sem uma causa específica, e o que é dito, algumas vezes, mexe negativamente com o humor delas”, explica a psicóloga Clarissa de Franco, professora de pós-graduação em RH da Faculdade Anchieta, em São Paulo.

Se o problema está no chefe, um sintoma clássico é os funcionários deixarem de procurá-lo para esclarecerem dúvidas, fazerem sugestões ou trocarem idéias. E, se a fonte da desarmonia é um colega, podem ocorrer desde tensões e discussões esporádicas até, em casos extremos, divisões na equipe. “Nessas horas, é comum alguém começar a procurar outros colegas como testemunhas de que está agindo de um modo correto em relação a essa pessoa”, diz Clarissa. Esse, por sinal, é o primeiro indício de que uma guerra está a caminho. “Na verdade, o que se está buscando são aliados para uma possível 'batalha'”, alerta a psicóloga.

O poder do diálogo

Agora, imagine trabalhar, dia após dia, num clima de tensão e desarmonia. A parceria e a cooperatividade ficam logo comprometidas e os prejuízos se amontoam: prazos não são cumpridos, erros pipocam aqui e acolá e a criatividade desaparece. “Algumas pessoas ficam tão abaladas que levam o estresse e a irritação para casa, comprometendo outras esferas de suas vidas”, conta Rafael. Um dos clientes dele passou por isso e só percebeu que deveria buscar ajuda quando a família chiou. “Ele chegava em casa tão incomodado que já não conversava com a mulher nem com o filho”, diz o especialista.

A meta dos coaches e psicólogos é desvendar o que está por trás desses problemas. Um trabalho de detetive, diga-se de passagem. “Muitas vezes, a causa é mais profunda do que imaginamos e está no próprio currículo de algumas faculdades, especialmente aquelas mais focadas na técnica e que não investem em disciplinas de ciências humanas”, diz Rafael. Essa lacuna, segundo ele, aparece lá na frente, quando o profissional assume um posto de chefia e descobre que não sabe como delegar tarefas, como tratar os funcionários, como pedir um favor... Outro fator que leva à desarmonia é a arrogância de alguns profissionais, que minimizam a importância das relações humanas e não se esforçam para cooperar com os demais. Esses dão dor de cabeça aos colegas e, às vezes, só aceitam buscar ajuda quando a empresa exige. “Muitos vão se conscientizar de que há algo errado apenas quando a insatisfação da equipe é generalizada”, afirma Rafael

A solução, qualquer que seja a causa do problema, começa pelo diálogo – muito diálogo, na verdade. Perguntar o que está errado, solicitar a cooperação de todos, abrir-se a sugestões, aceitar críticas, pedir desculpas... São infinitas as possibilidades abertas por uma franca conversa. “No entanto, é essencial estabelecer metas, muito claras e pontuais, e fazer um esforço para cumpri-las”, aconselha Rafael. E se, em algum momento, as coisas fugirem do controle, basta respirar fundo e lembrar que ninguém está livre de enfrentar desafios no ambiente de trabalho. O que importa é a disposição para tentar melhorar sempre.

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