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3.25.2009

A história da Samambaia

Por: Aninha, nossa Fada Peregrina. Comunidade Universo RH

Há algum tempo, fui contratada para fazer um trabalho em uma rede de super-mercados aqui dos limites do Imério, onde moro. Empresa familiar, com todas as manias e dificuldades costumeiras.

A tarefa era uma missão impossível. Eu devia motivar os funcionários, o povo da frente de combate a aumentar a produtividade e, ainda por cima, gerir a sucessão. Não acredito nem um pouco nesta história de motivação como panacéia. Mas, três vezes por semana lá ia eu. Afinal, é preciso ganhar-se a vida. E eu tinha consciência de fazer o meu melhor.

Na primeira semana, fiz visita de reconhecer o terreno. Que território inóspito e hostil. Material sucateados, tudo velho. Certo dia, avisaram que uma determinada peça de certa máquina iria estourar.

E acabou estourando, porque o seu Carlinhos, um dos herdeiros e, então, responsável pelas compras, não havia comprado a peça substituta. Mesmo tendo sido avisado pelo chefe de equipe com uma semana de antecedência.Resultado: três dias de máquina parada. Entretanto, mesmo nestas condições adversas, a coisa caminhava.

Com as mesmas máquinas sucateadas, em dois meses, a produtividade subiu 40%. Milagre da vontade humana. Aqueles homens e mulheres sabiam que sua sobrevivência, numa cidade de pobreza franciscana, estava ligada à recuperação da imagem da organização e das vendas.

Debruçaram-se sobre o Processo, mesmo nem sabendo a palavra. Arrancaram soluções de suas cabeças e de seus corações.Um deleite vê-los nos encontros comigo. Sempre traziam idéias. E as faziam sair pelo mundo do salão, dando resultados. Salvaram, ao menos por um tempo, a empresa da morte certa e lenta.

Muito bem. Missão cumprida, era hora de peregrinar por outras paragens. Fez-se, então, uma festa. Churrasco, como convém em festa do Sul. Música nativista. O cortejo completo. Placas. Prêmios. Figurino completo e elegante.

Já pelo meio da noite, a grande lição.Me chamaram ao centro do salão. Eu pensei: hora dos agradecimentos, abraços, aplausos e das rosas.

Muito intrigada, vi entrar pela porta um dos chefes de equipe, escondido atrás de uma enorme, magnífica, espantosa, inusitada samambaia.

Entre agradecimentos, abraços e lágrimas, lá veio a samambaia pro meu colo.

Apreciei. Mas intrigada perguntei ao Jair (como esquecer o nome?) as razões do inusitado presente. Explicação dele:

- "Ah! A gente quebrou o maior pau pra escolher seu presente. A maioria queria dar flor. Rosa era a favorita. Mas aí, resolvemos dar esta samambaia aí, porque rosa todo mundo dá. E além disso, iam morrer logo mesmo".

Mas se você cuidar desta samambaia como nós prometemos cuidar do que você nos ajudou a descobrir, ela não vai morrer nunca.

Nesta altura, eu estava espalhada pelo chão, desfeita em lágrimas de gratidão àqueles homens e mulheres de mãos gretadas, rosto marcado e coração generoso. Minha missão ali foi cumprida por eles, não por mim.

A samambaia está aqui, olhando pra mim, muito atenta. Ética e amorosa vigilante de meu ofício.

Ah! e a sucessão? Depois eu conto.

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