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3.17.2009

Empresas desafiam 'fantasma da crise' e sustentam investimentos

Por: Fernando Scheller e Isabelle Moreira Lima - G1

O fantasma que assombra a economia mundial não assusta a todos. Algumas grandes empresas insistem que o mercado brasileiro vai recompensar quem mantiver os investimentos. Para esses empresários, a crise não é motivo para dar passos para trás, interromper projetos, perder a chance de uma eventual retomada.

Em 2009, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia mundial deve crescer 0,5% - o Brasil, segundo o Fundo, deve ter expansão de 1,8%. A instituição prevê que o crescimento do Brasil seja de 3,5% no ano que vem, bem acima de países como EUA (1,6%), Rússia (1,3%), Grã-Bretanha (0,2%) e Japão (0,6%).

Entusiasmo na embalagem

Para demonstrar o entusiasmo com o mercado brasileiro, a gigante Unilever, fabricante do sabão em pó líder no Brasil - o Omo, com 74% de participação no mercado -, vai colocar a frase “A gente anda, o Brasil anda” nas embalagens do produto a partir de maio. Por dia, são vendidas 1 milhão de unidades do Omo, de acordo com a companhia.

Apesar da crise, a empresa diz que vai manter o plano estratégico de investimentos até 2012 no país - o Brasil é o terceiro maior mercado da Unilever para o mundo, atrás somente de Estados Unidos e Inglaterra, com faturamento de R$ 9,7 bilhões em 2007. Atualmente, a companhia tem 12 fábricas no país e emprega cerca de 12 mil pessoas.

Gigante americano

A multinacional norte-americana Wal-Mart também está entre as empresas otimistas com o mercado nacional. Para o presidente da rede no Brasil, Hector Nuñez, o momento econômico do Brasil é diferente de tudo o que há no resto no mundo.

O que nós conhecemos como crise no mundo não está acontecendo no Brasil. Isso eu posso afirmar. (...) Mas que nós vamos passar por momentos turbulentos, pode ser que sim. Mas nada perto do que estão sentindo os desenvolvidos”, afirma. “Nós [Wal-Mart] estamos no mesmo ritmo de vendas do ano passado, antes da crise global.”

Segundo Nuñez nenhum plano do Wal-Mart no Brasil foi alterado. “Nós anunciamos em agosto do ano passado, com o presidente Lula, o nosso plano de expansão. Vamos investir R$ 18 bilhões. Os planos continuam ativos. Vamos investir valores e vamos abrir lojas.”

Doces

Outra empresa que trabalha com expectativas otimistas é a Kraft Foods, que pretende aumentar suas vendas na Páscoa em relação ao ano passado com a marca Lacta.

Para isso, a empresa contratou 6,1 mil funcionários temporários para trabalhar nos pontos de venda no período, auxiliando o consumidor na compra do chocolate - são 600 pessoas a mais do que no ano passado.

De acordo com o gerente de Páscoa da Lacta, Bruno Zanetti, um quarto do faturamento da indústria de chocolates se concentra nesta época do ano. Segundo ele, o Brasil é um “país prioritário” dentro da estratégia de crescimento da Kraft. “[A crise] não mudou os nossos planos”, ressalta ele.

A Sotheby’s Realty, que atua no mercado imobiliário, abrirá em março e abril novos escritórios no Rio de Janeiro, em Natal e em Campo Grande, exclusivamente dedicado ao agronegócio.

Isso resultará na incorporação de cem novos profissionais - entre contratados e prestadores de serviço -, com o objetivo de aumentar a participação da empresa no mercado de imóveis de luxo no país.

Para ganhar competitividade, além de oferecer imóveis que já estão no mercado, a Sotheby’s também aumentará o número de empreendimentos próprios, que terão financiamento pré-aprovado a partir deste mês.

Isso vai facilitar a venda das unidades, segundo o diretor da empresa, Fábio Rossi, que descreve o Brasil “como o primeiro mercado para imóveis entre os países emergentes”.

Além de trazer os clientes externos para o Brasil, a queda do preço dos imóveis nos Estados Unidos também está incentivando o movimento contrário: a oferta de oportunidades de compra de imóveis em território americano, especialmente na Flórida e em Nova York, para clientes brasileiros.

Consumo e desemprego

Para o economista Miguel Daoud, da consultoria Global Financial Advisor, o investimento em empresas que focam o mercado interno faz sentido, considerado o mercado interno.

"Apesar do aumento no nível de desemprego, o mercado interno está em parte alheio a esta crise", diz ele, lembrando que a quantidade os investimentos pode até diminuir, mas em patamar inferior ao de outros países.

Ele diz que o mercado brasileiro tem muitos "carentes de consumo" em uma população de quase 200 milhões de pessoas. "E o Brasil ainda tem um certo protecionismo. Portanto, o nosso mercado interno não vai estar muito exposto", ressalta.

Para o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, Paulo Francini, o sentimento das empresas sobre a situação econômica do Brasil pode ser uma “sensação relativa”.

Francini afirma que ser otimista sobre a crise pode ser uma postura “exagerada”. “Otimismo eu acho uma palavra um pouco forte para mostrar a crise que se desenrola."

Francini acha que a crise não é passado no Brasil e que ainda pode se refletir no emprego. “Em países que já estão sofrendo há mais tempo, tem uma hora que bate no emprego. Veja o que está acontecendo no emprego na Europa, na China, nos Estados Unidos. Em todos os lugares, [a crise] chega no emprego. Nós não escaparemos disso.

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