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9.15.2008

Liberdade e Libertinagem Corporativa

Por: Emerson de Pieri*

Às vezes, nos deparamos com o inominável e que surpreende não só pela audácia e forma que nos é apresentado, mas pela total falta de profissionalismo e princípios de humanidade, que tanto temos lutado para que voltem à tona.

Hoje, especificamente, recebi um e-mail pitoresco, em que solicitava que eu não mais escrevesse em inglês para um grupo de recursos humanos, e que não perguntasse a uma pessoa que como ela estava se recuperando de um probleminha de saúde. Além do mais, fui taxado de “insolente e arrogante” pelo jovem neófito!

Ora, é evidente que os princípios de humanidade, tendem a privilegiar os mais fortes e com mais conhecimentos. Isso desde o nascimento do homem. E também é claro, que quanto menos conhecimento e informação as pessoas possuem, mais fácil estabelecer “campos de manobra e massas de comando”. Aí vale o famoso ditado: em terra de cego, quem enxerga é Rei!

O e-mail, me levou a escrever este artigo por 3 coisas excepcionais:

· A primeira, é que o jovem neófito, não parou em nenhum momento para questionar a coletividade de sua atitude. Ora, se estamos num grupo de pessoas e uma colméia humana multi-task, a democracia tem que ser empregada de forma ampla, para evitar as famosas salas de justiça onde poucos decidem e a grande maioria abaixa as orelhas, por não ter participado do processo decisório;

· A segunda, é a mais completa falta de cortesia “on-line”, onde pessoas escondem-se por trás de e-mails porque não se sentem capazes ou aptas a uma conversa pessoal e apaziguadora, antes de sair para o confronto público. Isso reflete, não só o despreparo profissional, como também demonstra a falta de voz de comando e skills negociais.

· E a terceira e mais importante: não confundir liberdade com libertinagem A vigência de espaços coletivos como nossos grupos virtuais é, de outro lado, também exigência para a consolidação da democracia. Em grupos como o nosso, nos quais a força do mais forte e/ou mais eloquente é capaz de submeter com aparente justificação a dezenas, exige uma eterna vigilância, por isso temos nosso grupo de moderadores para atenuar e deliberar sobre assuntos gerais do grupo. Até o momento o estilo que imaginei ao grupo virtual, poderá e está abrindo condições para a participação dos mais fracos.
A consolidação de nosso espaço como tal, não pode se tornar a pura gestão de interesses corporativos. Parece não haver, no entanto, outro caminho, senão transformar seu potencial em verdadeiro exercício de democracia como participação ativa, direta e responsável.

Democracia, portanto, não é intenção baseada na boa vontade, simplesmente, no acerto ou na gestão de interesses. É compromisso que se desdobra em responsabilidade concreta, em ação conseqüente em vista da afirmação de sujeitos conscientes e de espaços coletivos.

Isto não significa dizer que não precisemos de boa vontade ou devamos abdicar de interesses. Mas significa dizer que eles são insuficientes para que as regras sejam legítimas. Sem o compromisso responsável da participação nas decisões sempre circunstanciadas não há como esperar que a democracia seja realizada. Ceder, não é perder! É simplesmente aprimorar o pleno exercício da cidadania !

Viver sob regras não é uma escolha que podemos fazer aleatoriamente. É, sim, um condicionamento ao qual estamos obrigados. Aceitar a vigência de regras que normatizam a vida é, portanto, condição para não cair na completa desagregação ou na exacerbação do individualismo. É também condição para eventualmente questionar sua justificação, implicando coerentemente em conseqüências quanto ao seu cumprimento.

Se isto é verdade, então a pergunta que nos colocamos é a seguinte: em que medida a maneira ou o processo do estabelecimento democrático das regras pode ou não implicar em sua maior ou menor força em vista de seu cumprimento?

A maneira democrática de estabelecer as regras implica imediatamente na participação mediada. A qualidade da participação é o critério para medir a força de sua legitimação e, portanto, da possibilidade do seu cumprimento.

Implicar imediatamente a participação significa dizer que para que uma regra seja legítima não se pode abrir mão da participação, sua condição fundamental é indispensável. A participação joga por terra a naturalidade das regras e exige o seu estabelecimento consensual por acordos fundados no convencimento argumentativo. Ou seja, para que o estabelecimento de regras não seja um mero acerto de convenções ou de interesses, que não raras vezes vêm a favor do mais forte, a participação que exige convencimento pelo melhor argumento, não pela sedução da melhor propaganda, é o que fará a diferença qualitativa.

Porém, a existência de um árbitro é mais do que benéfica para colocar fim em discussões ou atos que estejam impedindo algo maior. A participação é sempre mediada, pois desde o início já estabelecemos uma regra: use seu bom senso ao enviar mensagens o que é muito diferente de censura!

Neste sentido, a democracia não existe senão como realização progressiva e num longo caminho que vai consolidando espaços coletivos e sujeitos capazes de decisão e ação conseqüente. Se de um lado a democracia não se realiza senão em condições históricas, do outro, as mesmas condições históricas não esgotam por si a justificação das regras já que, se assim fosse teríamos que sucumbir sempre às circunstâncias, sem a possibilidade concreta de modificá- las ou de aperfeiçoá-las. Participar, portanto, exige sujeitos autônomos, conscientes de seus limites e de suas possibilidades.

Estabelecer regras justificadas que evitem o "auto-engano" coletivo somente é possível, mesmo que numa realização a longo prazo, com sujeitos autônomos, conscientes e partícipes, capazes de estabelecer as regras e de cumpri-las não só como medida de sobrevivência mas também como forma de não permitir que um mais desavisado ou mais forte se sobreponha sobre outros.

A vigência de espaços coletivos como nossos grupos virtuais é, de outro lado, também exigência para a consolidação da democracia. Em grupos como o nosso, nos quais a força do mais forte e/ou mais eloqüente é capaz de submeter com aparente justificação a dezenas, exige uma eterna vigilância, por isso temos nosso grupo de moderadores para atenuar e deliberar sobre assuntos gerais do grupo. Até o momento o estilo que imaginei ao grupo, poderá e está abrindo condições para a participação dos mais fracos.

A consolidação de nosso espaço como tal, não pode se tornar a pura gestão de interesses corporativos. Parece não haver, no entanto, outro caminho, senão transformar seu potencial em verdadeiro exercício de democracia como participação ativa, direta e responsável.

Democracia, portanto, não é intenção baseada na boa vontade, simplesmente, no acerto ou na gestão de interesses. É compromisso que se desdobra em responsabilidade concreta, em ação conseqüente em vista da afirmação de sujeitos conscientes e de espaços coletivos.

Isto não significa dizer que não precisemos de boa vontade ou devamos abdicar de interesses. Mas significa dizer que eles são insuficientes para que as regras sejam legítimas. Sem o compromisso responsável da participação nas decisões sempre circunstanciadas não há como esperar que a democracia seja realizada. Ceder, não é perder! É simplesmente aprimorar o pleno exercício da cidadania!

* O Autor é Presidente do Latin Bankers Association e Vice-presidente para America Latina do HBC Bank plc.

** E eu participo desse grupo... assino em baixo!

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